A defesa do humor e da liberdade
“Comprometer-se na defesa da liberdade de expressão implica proteger o discurso que você não gosta de escutar.”
Em meio a uma inconsequente onda de censura judicial ao humor, um juiz vai em sentido contrário e defende a piada como expressão legítima de quem tem a tarefa de provocar risos e encantar plateias.
Ao absolver um réu acusado de injúria racial por falas em uma live, o juiz André Luiz Rodrigo do Prado Norcia, da 3ª Vara Criminal de São Bernardo do Campo, seguiu um caminho esquecido pelos tribunais: o da liberdade, como preceito fundamental.
"Sem dolo, não há crime", disse, em sua decisão. Para o juiz, o Direito Penal não deve punir piadas sem intenção real de ofender.
“Comprometer-se na defesa da liberdade de expressão implica proteger o discurso que você não gosta de escutar.”
Com essa frase, o juiz reafirmou que, em um Estado democrático, o julgamento de falas desconfortáveis cabe à sociedade — e não ao sistema penal.
Clique para baixar arquivoNa decisão, ele também questiona o artigo 20-A da Lei nº 7.716/89, que agrava a pena quando a ofensa ocorre com “intuito de diversão”. Para o magistrado, isso abre margem para criminalizar o humor, contrariando os princípios da legalidade e da culpabilidade.
“A criminalização da piada não encontra respaldo na Constituição", registrou o magistrado.
A absolvição, assim, não foi leniência, mas aplicação rigorosa da lei. A crítica à fala pode (e deve) ocorrer, mas a pena só se justifica quando há intenção clara de ferir — e essa intenção precisa ser provada.
Ai reina um intenso contraste com o caso do humorista Léo Lins — condenado por piada capacista — e mostra os diferentes caminhos possíveis. Embora os contextos e fundamentos variem, o dilema é o mesmo: até onde a Justiça deve ir para controlar o riso???
ASSUNTOS: CENSURA JUDICIAL, humor, liberdade
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.