BR 319, a rodovia do esquecimento
- Para explorar petróleo poluente, o governo se mobiliza, articula, licencia e defende publicamente a necessidade de explorar “com responsabilidade ambiental”. Para a BR 319— infraestrutura básica para milhões de amazônidas —, o mesmo zelo se transforma em paralisia, silêncio e inércia.
- O Estado do Amazonas, que sustenta a Zona Franca, que produz energia limpa e que vive isolado por falta de estrada, continua à margem de decisões tomadas longe da floresta.
O contraste salta aos olhos — e, para o Estado do Amazonas, é especialmente amargo. Enquanto o governo federal insiste em avançar na exploração de petróleo na margem equatorial, com aval do Ibama e discurso de modernidade energética, a BR-319 segue esquecida, atolada em pareceres e impasses ambientais que há décadas impedem sua recuperação. Trata-se da única rodovia que liga Manaus ao restante do país por terra, símbolo maior da integração nacional negada.
A incoerência não é apenas do sistema que marginaliza os interesses do Estado do Amazonas. Ela está na própria fala presidencial. O mesmo governo que exalta a pesquisa de petróleo na costa norte hesita em defender, com igual vigor, a reconstrução da estrada que liga o coração da Amazônia ao restante do país.
Seria ótimo se Lula viesse amanhã e dissesse que, mais uma vez, se equivocou — e que se atrapalhou ao não incluir a BR-319 em seu discurso sobre desenvolvimento responsável. Afinal, o presidente costuma admitir que erra.
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Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.