Bolsonaro: nem 'imorrível' nem 'incomível'
Desde quarta-feira avalio a fala do presidente Jair Bolsonaro nos festejos do bicentenário da independência do Brasil. Confesso que cheguei a produzir este texto, ao menos em parte, ontem mesmo. Mas resolvi rever vídeos várias vezes, sempre sem compreender as razões de Bolsonaro buscar se autoafirmar como macho, convencer-se de que é o bamba.
Mas errou no tom e expôs uma fraqueza. O fato de ter repetido inúmeras vezes que é imbroxável passou a impressão de um macho em agonia. Disseminou a ideia, também ruim, de que o que o perturba é o fracasso, que ja deve ter experimentado em algum momento e isso foi marcante em sua vida.
Outra coisa que Bolsonaro repete sabendo que não reside nessa narrativa nenhuma verdade é que, ao contrário dos demais seres vivos, não morre ou, nas palavras dele, é “imorrível”. Todos morremos. Que não é comível. Isso também é uma meia verdade. Enterrados, seres vivos são devorados pelos vermes. Se a conotação foi sexual, então ninguém pode desmentir o presidente, mas o fato de ele propagar isso repetidamente acaba colocando dúvida onde não deveria existir a menor desconfiança.
OBS: Não voto em Bolsonaro. Também não voto Lula. Você vai achar estranho, mas os dois são muito parecidos. A diferença está na forma como cada um deles se comunica com a sociedade. Mas o espírito é o mesmo.
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.