Barroso, um ministro reformista nas ideias e conservador nos privilégios
- O que Barroso negou como direito (caso do piso dos enfermeiros), concedeu como privilégio corporativo aos juízes.
- Austeridade para com os de baixo, complacência para com os de cima.
O legado de Roberto Barroso no Supremo Tribunal Federal é antes de tudo o retrato de uma era carregada de valores contraditórios.
Em nome da responsabilidade fiscal, defendeu a terceirização irrestrita, chancelou a reforma trabalhista e suspendeu o piso nacional da enfermagem — decisão que atingiu justamente uma das categorias mais sobrecarregadas e mal remuneradas do serviço público.
Mas o zelo fiscal que se impôs aos enfermeiros não teve o mesmo rigor quando o interesse era o dos tribunais.
Barroso — já como presidente do Conselho Nacional de Justiça — equiparou juízes e membros do Ministério Público em direitos indenizatórios, abrindo espaço para a consolidação dos chamados penduricalhos.
O que foi negado como direito social foi concedido como privilégio corporativo. Austeridade para os de baixo, complacência para os de cima.
Ao validar indenizações criadas por órgãos de cúpula, o ministro reforçou a percepção de que a moralidade pública convive bem com o privilégio, desde que travestido de legalidade.
Ao deixar a Corte antes do fim de julgamentos decisivos, Barroso reafirma seu instinto de cálculo: preserva-se antes do desgaste e garante que sua imagem permaneça associada à estabilidade, não à crise.
Seu legado é o de um ministro brilhante e contraditório: reformista nas ideias, conservador nos privilégios.
ASSUNTOS: Luiz Roberto Barroso, STF
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.