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Secretário de Tarcísio escanteado após crise com Antonov diz a aliados que pedirá demissão

Por Folha de São Paulo

23/05/2024 8h48 — em
Política



SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O secretário de Negócios Internacionais do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos), Lucas Ferraz, foi exonerado do cargo a pedido nesta quinta-feira (23). A decisão foi publicada no Diário Oficial do estado.

Como mostrou a Folha de S.Paulo, Ferraz afirmou neste mês a aliados que deixaria o cargo. Ele passou por um processo de fritura após envolvimento em uma polêmica com a estatal ucraniana Antonov em abril do ano passado.

Depois desse caso, o secretário começou a ser escanteado de atividades importantes, e Tarcísio considerou extinguir a pasta. Segundo aliados, Ferraz entregou o pedido de demissão no fim do mês passado e, desde então, as ações da pasta passaram a ser tocadas pela Casa Civil.

A exoneração ocorreu no dia seguinte aos questionamentos feitos pela reportagem. Um dia antes, questionados pela Folha de S.Paulo sobre a intenção manifestada por Ferraz a pessoas próximas a ele, o secretário e a assessoria de imprensa do governo Tarcísio não se manifestaram.

O caso Antonov eclodiu após reportagem da CNN Brasil afirmar que a fabricante de aeronaves deixou de investir US$ 50 bilhões no Brasil devido a declarações do presidente Lula (PT) que teriam relativizado a responsabilidade da Rússia na guerra na Ucrânia.

A Secretaria de Negócios Internacionais publicou uma nota afirmando ter recebido representantes da Antonov para tratar do tema.

A estatal ucraniana, porém, contestou a informação e declarou não ter representantes no Brasil, o que levou ministros de Lula a acusar o governo paulista de espalhar informação falsa para prejudicar a gestão federal.

Como mostrou a Folha de S.Paulo, integrantes do governo estadual avaliaram que a situação se tornou problemática porque deu margem para que ministros atacassem Tarcísio. A exploração política foi determinante para que o mal-estar com o secretário se disseminasse no Palácio dos Bandeirantes.

O governador precisou intervir e conversar com Lula pelo telefone para apaziguar a situação. À época, Tarcísio sinalizou que Ferraz poderia ser substituído, reunindo-se com Marcos Troyjo, ex-presidente do Banco dos Brics, que passou a ser cotado para o posto.

Tarcísio acabou não demitindo o secretário naquele momento, numa tentativa de abafar a crise, mas criticou a confusão publicamente.

"Não sei como essas coisas nascem, sinceramente. [...] Se um advogado que diz representar uma empresa me manda um email dizendo que quer investir US$ 50 bilhões, esse email dele vai direto para a lixeira. Quem é que vai chegar aqui: ‘Ah, vou investir US$ 50 bilhões’? [...] Não tem nem pé nem cabeça", disse à GloboNews em maio de 2023.

Na mesma entrevista, o governador admitiu que a continuidade da secretaria seria avaliada e disse que a pasta foi criada para ser mais agressiva na busca pela captação de investimentos.

"É preciso avaliar a efetividade desse mecanismo. Mas é uma questão interna do governo, que a gente não vai decidir agora", afirmou.

Depois do caso, o secretário ficou de fora de algumas reuniões de Tarcísio com empresários e governantes estrangeiros. Em fevereiro deste ano, por exemplo, Ferraz não acompanhou o governador em roadshow na Europa com o objetivo de fechar parcerias para investimentos.

Tarcísio viajou com os secretários de Parcerias em Investimentos, Rafael Benini, e de Desenvolvimento Econômico, Jorge Lima, e com o presidente da InvestSP, Rui Gomes.

Antes do caso Antonov, em março do ano passado, Ferraz havia sido o responsável por preparar o roteiro de outro roadshow do governo pela Europa e por acompanhar o governador na viagem.

Integrantes do governo passaram a falar em redundância nas tarefas de Ferraz e de outras instituições de atuação semelhante, como a Secretaria de Parcerias em Investimentos e a InvestSP.

Engenheiro químico com pós-graduação na USP e doutorado em economia pela FGV, Ferraz foi secretário de Comércio Exterior no ministério comandado por Paulo Guedes no governo Jair Bolsonaro (PL). Agora ele deve voltar a trabalhar no setor privado.


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