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Elite brasileira fala em defesa da democracia, sem entender seu significado


Por Raimundo de Holanda

28/02/2023 20h59 — em
Bastidores da Política



Enquanto políticos (e magistrados da mais Alta Corte de Justiça)  falam em democracia, a sociedade se fragmenta. E a razão não é a guerra ideológica travada pela esquerda e a extrema direita - aliás, duas correntes muito parecidas, porque o que produzem com suas diferenças é o dissenso, que leva ao caos.

A fragmentação da sociedade e a descrença na democracia advém de um tipo de violência que, se não é incentivada pelo estado brasileiro, há uma espantosa  conivência, uma evidente tolerância do poder público, ou não cresceria - e tenho repetido isso aqui neste espaço - como tem crescido.

  Comunidades pobres, que vivem  em guetos, submetidas a fuzis e tribunais do crime não entendem essa “democracia”- porque nunca chegou a elas - nem em termos de igualdade, de justiça, de serviços essenciais, como segurança, saneamento, educação. Direitos. Sim direitos, pois democracia pressupõe direitos, liberdade de locomoção, oportunidades iguais para todos.

Vejam só: as facções criminosas dominaram a maior parte dos bairros de Manaus. No interior do Amazonas, o problema é mais sério. Em Itacoatiara, casas são incendiadas e os tiroteios  entram  pela madrugada, levando moradores ao desespero, especialmente nos bairros Moisés Israel e da Paz, onde duas organizações criminosas tentam tomar as bocas de fumo e as entradas que dão acesso a portos improvisados no rio Amazonas, onde desembarcam drogas.

Falta Polícia, alguns dirão. Essa é uma falsa narrativa da qual se aproveitam a extrema esquerda e a extrema direita, os políticos  que vivem do orçamento secreto e projetando o próximo esquema para encher os bolsos.

Falta o poder público com serviços essenciais, falta servidores públicos honestos que não sejam cooptados pelo Estado Paralelo, falta efetivamente governo. Falta democracia - com tudo o que ela, quando existe de fato, representa.  Falta sair desse discurso hipócrita, concentrado em Brasília, para a concretude de um pensamento político que resulte nesse sistema de governo que não pode ficar apenas na teoria, ou entender que uma eleição, sozinha,  produz democracia.

Não produz. Tem que ser construída. E ainda é apenas uma ideia no Brasil, enquanto persistir o desespero de um povo ignorado que só é lembrado em época de eleição.

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Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.