Crise e violência provocam fechamento do primeiro restaurante a quilo da Zona Sul
RIO — A guerra na Rocinha, quem diria, foi a gota d’água para o fechamento de um dos restaurantes a quilo mais tradicionais da Zona Sul. Com dívidas e diante da queda de quase 50% no movimento, o comerciante Jair Pinto, que estava há 31 anos à frente do Couve-flor, já pensava em encerrar as atividades, mas sacramentou a decisão na última terça-feira, após ter tido dificuldades para manter a casa funcionando nos dias anteriores. Apesar do imóvel ser na Rua Pacheco Leão, no Horto, ele sofreu com a disputa entre traficantes na Rocinha, encravada entre Gávea e São Conrado. No domingo, onze funcionários, todos moradores da comunidade, faltaram, aterrorizados pelo intenso tiroteio na região. No dia seguinte, os poucos que conseguiram ir trabalhar pediram para sair mais cedo, com medo de perder o toque de recolher imposto pelos bandidos.
— Abrimos com dificuldade. E percebi que, além da crise, temos a violência. Estou muito triste em ter que fechar e vinha adiando por causa dos funcionários. Alguns são muito antigos e estão comigo desde o começo — disse Jair.
SITUAÇÃO DIFÍCIL DESDE 2015
Ele contou que a situação estava complicada desde 2015, mas um empréstimo deu sobrevida ao negócio.
— Desde 2015, eu vinha sentindo os efeitos da crise, mas fiz empréstimos e fomos tentando nos manter. Mas agora a situação ficou insustentável. Foi um decisão muito difícil, que eu vinha adiando. Eu fiquei muito triste, porque este lugar foi pioneiro, fomos os primeiros a ter comida a quilo na Zona Sul. Eu tenho clientes aqui que viraram amigos, que eu sentava para almoçar com eles — lembrou Jair, contando que fará um novo empréstimo para poder pagar as indenizações aos cerca de 40 funcionários demitidos.
Na terça-feira, a casa amanheceu fechada, com um cartaz explicando que o Couve-flor não conseguiu vencer a crise econômica do Brasil, como mostrou a coluna Gente Boa, do GLOBO. Na quarta, vários clientes desavisados foram até o endereço, na hora do almoço, em busca das saladas, que são um dos hits da casa.
— Eu queria comer salada. Uma pena — lamentou Diogo Vieira, de 40 anos, que fotografou o cartaz com a câmera do celular.
Nos seis primeiros meses deste ano, a crise já fechou outros restaurantes da cidade, como a unidade de Botafogo da churrascaria Estrela do Sul, a livraria-restaurante Al-Farabi, no Centro, o Atrium, no Paço Imperial, a hamburgueria americana PJ Clarke’s, no BarraShopping, o italiano Benedictine, no Village Mall, e o Petisco da Vila, em Vila Isabel.
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