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‘Orgasmo’ e outras atrações das feiras livres modernas

Por Agência O Globo

02/12/2018 3h22 — em
Rio de Janeiro



RIO - “Às vezes, a gente vem só para comer ou encontrar amigos. Virou um programa de família. E, se quiser fazer compras, você encontra produtos diferentes, com mais qualidade do que os dos supermercados”, argumenta a terapeuta holística Cris Gontijo, de 39 anos. Você pode até achar que alguma coisa está fora da ordem na declaração da moradora da Urca, que todo domingo passeia entre as barraquinhas montadas na praça Tenente Gil Guilherme, perto de sua casa. Mas é isso mesmo. Já foi-se o tempo em que escolher frutas e legumes era o item número um na lista de quem frequenta as feiras livres. Agora, elas estão cada vez mais, digamos, livres. E se multiplicam assim, modernas e múltiplas, pela cidade.

Queijos temperados, geleias naturais sem adição de açúcar ou conservante, granola salgada de masala (uma mistura indiana de temperos), comida japonesa... São muitas as opções gastronômicas. Etílicas, então, nem se fala. Combinação perfeita para dar àquela “ida à feira’’ o status de programa carioca obrigatório.

— A gente vive aqui. Hoje, viemos pegar mel e um bolinho de aipim com queijo especial. Mas também gosto muito de uma barraquinha que vende massas. O atrativo principal é que são produtos de qualidade que não encontramos em mercado — diz o astrólogo Dimitri Camiloto, de 47 anos, casado com Cris Gontijo, entre uma compra e outra na feira da Urca.

Opções de doces também não faltam. Nem de doces não tão doces asssim. Na barraca “Mimos da Tarciana”, por exemplo, tem doce de banana sem açúcar, doce de leite sem lactose, geleia de maçã com tâmara adoçada com as próprias frutas.

— Tudo o que eu faço é artesanal. Estou desde o início do ano na feira. Minha linha é de menos produto químico e mais fruta. Não há adição de corante ou conservante. Para se ter uma ideia, o doce de banana fica dois dias no fogo, como se fazia antigamente — explica Tarciana Saad, de 40 anos.

Tarciana é um exemplo da nova safra de produtores descritos por Dimitri Camiloto. Casada com um feirante, a atriz nunca planejou entrar no ramo, mas, acostumada a fazer as geleias para consumo próprio, viu uma oportunidade de negócio nesses tempos de escassez econômica.

NOVOS E VETERANOS

Com barraqueiros novos ou antigos, as feiras de rua andam, acima de tudo, democráticas, com espaço para todos. A barraca Mazzaropi do Bacalhau é de veteranos no ramo.

— Meus pais trabalham com feira há 45 anos. Trabalhamos em 12, só vendendo bolinho de bacalhau. Hoje (), minha esposa está em Copacabana; um irmão, na feira da Glória; e outro, na Barra. Enquanto isso, meus pais ficam na General Glicério, em Laranjeiras, onde chegamos a vender mil bolinhos — conta, orgulhoso, João Batista Bezerra.

No Maracanã, outro exemplo atesta que as feiras vão muito além do pastel com caldo de cana. Maria Concita Ferreira, de 44 anos, comanda um de comida japonesa na feira da Rua Moraes e Silva, às quintas. O Sushi Barcellos conta, além do tradicional sushi, com atrações como o “Orgasmo’’ (tempurá de camarão e cream cheese flambado com geleia de pimenta) e o “Noku’’ (tempurá de camarão com shiitake com chips de batata doce).

— A gente chega a fazer entre 90 e 110 atendimentos numa quinta-feira. O cardápio ‘‘Orgias’’, com nomes engraçadinhos, partiu dos clientes. E pegou. Tem também o “Perereca da Anita’’ e o “Kbichinha’’ — conta Maria Ferreira.

No Leblon, na Praça Nossa Senhora Auxiliadora, o “bolotone’’ é a aposta de Fabiana Barbosa, de 29 anos, para incrementar as vendas no período natalino. Lá, ela trabalha desde agosto, mas a experiência em feiras livres começou há um ano e meio na Praça Nossa Senhora da Paz, em Ipanema. Os bolos caseiros e os docinhos ganharam a companhia do bolo em formato de panetone, em cinco sabores, que varia de R$ 4 a R$ 9:

— Continuo trabalhando na minha cozinha com delivery de comida saudável. A feira é o marketing, é onde eu tenho contato direto com o cliente.

E até a tradicional tapioca precisou se adaptar. Na Rua Ronald de Carvalho, em Copacabana, a Rainha da Tapioca, barraca de Tereza Stofel, de 66 anos, tem até a iguaria com geleia de pimenta entre os 23 sabores do cardápio.

— Começamos a vender há mais de 40 anos, mas os sabores mudaram. Antes, era só de coco — conta.

COMUNIDADE ALTERNATIVA

Na Gávea, a feira da Junta Local se tornou um verdadeiro corredor gastronômico e etílico, com direito a DJ para animar as famílias, que espalham cangas pela grama da Praça Santos Dumont.

— Somos uma comunidade pela comida justa e sempre beneficiando o produtor local — afirma Lúcia Moreira, do Jardim do Pão, que vende pão de batata-doce, beterraba, azeitona, cebola, mediterrâneo (abobrinha, berinjela e tomate)...

A moradora de Copacabana Beth Guichard, de 58 anos, é cliente fiel:

— Tem uma variedade enorme de produtos. E são naturais, sem conservantes ou agrotóxicos.

Sandra Mendes conquistou o público na Praça Santos Dumont com drinques. E com canudo de papel e copo retornável, claro.


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