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Rio das Pedras avança, e milícia mais antiga da cidade já cobra estacionamento e ‘taxa de bica’

Por Agência O Globo

26/10/2018 3h21 — em
Rio de Janeiro



RIO - Estrada de Jacarepaguá 3.145. Este é o endereço do Ciep Governador Roberto da Silveira, e, bem em frente à unidade de ensino, pode-se ver o mais novo empreendimento da milícia que controla Rio das Pedras, a segunda maior favela do estado, com cerca de 80 mil habitantes, de acordo com o Instituto Pereira Passos.

Ali, uma praça ganhou dezenas de estacas no fim do mês passado, e uma camada de concreto passou a cobrir, dois dias atrás, o chão de terra batida. Virou um estacionamento privado, cujas vagas são oferecidas por R$ 120 mensais.

O local também ganhou um lava-jato. E, em seu entorno, surgem outras formas de exploração de serviços ilegais. A mais antiga milícia carioca segue cobrando taxas de segurança, vendendo sinais piratas de TV a cabo e desmatando áreas para construir e comercializar imóveis irregulares, entre outros crimes.

Mas, agora, a lista de "produtos" foi aumentada com água encanada de nascentes - "taxa de bica" - e mensalidades para motoristas que querem estacionar carros em algumas ruas.

Desde março, a Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente (DPMA) da Polícia Civil abriu seis inquéritos referentes a ações do grupo paramilitar que atua em Rio das Pedras.

- Milicianos estão encanando água das nascentes da região e cobrando uma taxa mensal de R$ 15 de cada casa abastecida - disse o delegado Antônio Ricardo Lima Nunes, titular da DPMA.

Vagas para carros também viraram um filão para a milícia. Estacionamentos como o aberto na praça em frente ao Ciep Governador Roberto da Silveira - que seria administrado por dois ex-PMs -se multiplicam. E falta de espaço para instalar outros não é algo visto como um problema por quem fatura em cima da ausência do poder público.

- Passaram pela Rua Um informando que também vão cobrar R$ 120 por mês das pessoas que param carros diante de suas casas - contou um morador, pedindo anonimato por medo de represálias. - E já disseram que, agora, todo mundo precisa pagar uma taxa de segurança de R$ 30. Antes, só o comércio dava esse dinheiro. Viver em Rio das Pedras está ficando muito difícil.

A comunidade avança em ritmo frenético sobre áreas verdes. Obras são vistas por toda parte, até mesmo em encostas que não contam com qualquer escoramento. O barulho de motosserras e de marretas fincando estacas se faz contante, e a terra extraída para os trabalhos de fundação de casas e prédios é levada para caminhões. Segundo a DPMA, os veículos a despejam, sob encomenda, em aterros, gerando mais lucros para a milícia.

- Entram com rolos compressores na mata, jogam tudo para baixo e constroem prédios de seis, oito andares. Parecem ter a certeza de que não serão incomodados - lamentou um outro morador.

O delegado Antônio Ricardo Lima Nunes confirmou que a milícia pratica crimes ambientais em larga escala, com o objetivo de de construir imóveis e vendê-los, mesmo sem escrituras:

- Ela () fatura alto com a grilagem, e ainda vende terra, areia e pedra para empresas de material de construção da região. Está erguendo vários prédios com quitinetes que são vendidas por R$ 45 mil "no osso", ou seja, sem acabamento ou documentação.

Recentemente, durante uma operação da DPMA, foram localizadas sete construções irregulares na Estrada do Bougainville, erguidas na área de recuo de um condomínio. As obras foram embargadas, mas segundo Antônio Ricardo, cabe à prefeitura providenciar a demolição antes que os imóveis sejam ocupados:

- Assim que o primeiro pavimento de um prédio irregular fica pronto, a milícia bota alguém para morar lá, mesmo com a obra em andamento. Faz isso para tentar evitar a demolição, porque sabem que a prefeitura terá de recorrer à Justiça para derrubá-lo. Comunicamos ao município a existência das construções clandestinas, mas ainda não tivemos respostas.

A prefeitura não se manifestou sobre o assunto.


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