Esplanada do Castelo, um antigo centro de poder
RIO - A Esplanada do Castelo é o retrato de um tempo em que o Rio de Janeiro era capital do país. Na Avenida Presidente Antônio Carlos, no Centro do Rio, a grandiosidade de dois edifícios que no passado foram sedes de ministérios — o da Fazenda, o do Trabalho e também da Indústria e Comércio — ainda hoje confere uma certa imponência ao quarteirão. Na vizinhança, está ainda o Palácio Gustavo Capanema, edifício do antigo Ministério da Educação e Cultura (MEC), marco da arquitetura moderna mundial. Com o passar dos anos, essas construções sofreram desgastes pela ação do tempo e, com a mudança do poder para Brasília, acabaram ganhando novos usos.
Mas quem passa hoje pela região vê sinais de que restaurações estão a caminho. Atualmente, os três prédios estão cercados por tapumes e encobertos por telas. No edifício do MEC, a obra já está em andamento: da calçada dá para ver que os detalhes do brise-soleil, desbotados, ganharam um tom de azul vivo. A previsão é que, até fevereiro, as fachadas estejam recuperadas. No Ministério da Fazenda e no Ministério do Trabalho, os operários ainda não começaram a trabalhar.
Os três edifícios foram erguidos na área do desmonte do Morro do Castelo, local que, durante o governo de Getúlio Vargas, concentrou várias sedes ministeriais.
— São prédios com estilos diferentes: o do Ministério da Fazenda tem traços clássicos, com suas colunas, mas é um estilo eclético, e o do Ministério do Trabalho, com algum traço art-déco, tem estilo protomoderno. Os três são importantes, mas o do MEC é o que merece mais destaque, porque foi o primeiro prédio modernista no mundo, uma obra de Lucio Costa, Oscar Niemeyer e uma equipe de arquitetos brasileiros, seguindo o desenho do francês Le Corbusier — comenta Jerônimo de Moraes, presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU-RJ).
Como noticiou Ancelmo Gois, o projeto de restauração da fachada do antigo Palácio da Fazenda, a primeira a ser realizada desde a inauguração em 1943, está orçado em R$ 20,7 milhões. Por se tratar de um bem tombado, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) precisou analisar e aprovar o projeto, que ainda aguarda a liberação de verba.
Inaugurados entre as décadas de 1930 e 1940, os prédios foram projetados para um grande fluxo de pessoas, entre servidores e público e, por isso, ocupam quadras inteiras. O Ministério da Fazenda tem 102 mil metros quadrados, mas, nos últimos 50 anos, perdeu o glamour que o poder emprestava ao prédio. No lugar onde no passado milhares de pessoas se aglomeravam para entregar formulários de imposto de renda, atualmente, com exceção da área do Centro de Atendimento ao Consumidor da Receita Federal, não é muito comum ver movimento, sequer filas. Nos 14 andares, há vários espaços subutilizados, alguns desativados, e corredores vazios.
— Estes prédios foram construídos na década de 1940 para abrigar ministérios e vinte anos depois estávamos construindo Brasília, uma nova capital. Uma prova de que os governantes brasileiros gostam muito de obras — destaca Jerônimo de Moraes.
O historiador e arquiteto Olínio Coelho lembra que o prédio do Ministério da Fazenda deveria ter sido feito na Praça Tiradentes.
— Inicialmente, seria construído no prédio que era da antiga Escola Nacional de Belas Artes, na Praça Tiradentes, que foi demolida para isso. Houve concurso público para escolher o projeto, que foi vencido pelos arquitetos Enéas Silva e Wladimir Alves de Souza. Mas o local foi mudado pelo ministro, que então convocou a equipe técnica do ministério, dirigida pelo arquiteto Luís Moura, para a elaboração de novo projeto. Esse acabou dando início à construção, que tinha um pórtico de feição grega projetado pelo arquiteto Stélio Alves de Souza, irmão de Wladmir — conta Olínio.
No Ministério do Trabalho — que atualmente é sede do Tribunal Regional do Trabalho do Rio e tem cinco andares ocupados pela Superintendência Regional do Trabalho e Emprego —, as áreas internas foram adaptadas ao longo dos anos. O prédio, inaugurado em 1938, tem cerca de 37.500 m² de área construída e foi tombado pelo Inepac por representar “um momento da construção do Brasil como nação moderna, no período do Estado Novo”. O projeto, de Mário Santos Maia, foi escolhido por um concurso público e desenvolvido por equipe da qual fazia parte Affonso Eduardo Reidy.
Desde 2011, quando os mármores e granitos do embasamento da edificação foram restaurados, ele não sofre uma grande reforma. Recentemente foi constatado que partes da fachada estavam se soltando, o que levou o órgão a instalar telas de proteção ao redor de todo o prédio. Um projeto com objetivo de restaurar a fachadas, os terraços e as varandas, estimado em R$ 10 milhões, está em fase de aprovação.
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