Arthur Xexéo diz que filmes religiosos atraem muitos espectadores
“A sala cala e o jornal prepara quem está na sala / Com pipoca e com bala / E o urubu sai voando, manso”. Os versos da música “Bala com Bala”, dos compositores Aldir Blanc e João Bosco, retratam como eram as exibições nas salas de cinema da Galeria Condor. Antes de começar a sessão, apresentava-se um noticiário com os principais acontecimentos da cidade. Em seguida, surgia um Condor, que desaparecia da tela quando o público gritava para “espantar” a ave. Só então o filme era rodado — muitos deles, de produções francesas e italianas. Pouco mais de cinco décadas depois, desde sua inauguração, a proposta cultural muda de rota e entra no campo da religião, seguindo o mesmo destino de outros cinemas do Rio.
O jornalista e colunista do GLOBO Arthur Xexéo cita quatro cinemas de rua que viraram igrejas evangélicas na cidade, para a tristeza dos cinéfilos: o Cine Pathé, na Cinelândia; os Lido 1 e 2, no Flamengo; o Alaska e o Royal, em Copacabana. Mas outras salas também deram lugar a templos na Zona Norte. O colunista vê com otimismo, porém, o mais novo empreendimento do Largo do Machado. Segundo ele, a igreja mantém a estrutura do cinema, o que não exclui um possível retorno no futuro, a exemplo do que ocorreu com o Teatro Tereza Rachel:
— Fico animado (com a inauguração de um cinema bíblico), porque os cinemas, quando começaram a ser vendidos, viraram supermercados, lojas de eletrodomésticos, de roupa. As igrejas pelo menos estão mantendo a estrutura do cinema e do teatro, com o auditório, as cadeiras. Quem sabe um dia ele não volte a ser o Condor, como ocorreu com o Teatro Tereza Rachel, em Copacabana, que passou para a Universal e hoje é o Theatro Net Rio, um dos maiores do Rio? — disse o jornalista que, apesar de ser favorável à novidade, não pretende se tornar um frequentador. — Vou passar longe. A programação não me interessa.
Xexéo acredita que não vão faltar espectadores interessados em filmes religiosos para ocupar os 800 lugares da sala. Ele desconfia até que haja produção suficiente para alimentar a programação:
— Eu não sei se tem produto para isso. Desconheço. Mas a igreja deve ter feito um estudo de verdade antes de decidir pelo gênero. O fato é que há público. No ano passado, por exemplo, o filme “Os dez mandamentos” bateu recorde de bilheteria.
Em 2014, reportagem do GLOBO mostrou que o Rio tinha 16 cinemas (com 35 salas) nas ruas e 28 (159 salas) em shoppings. Na década de 60, eram 198 cinemas, sendo 62 com mais de mil lugares.
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