Arco Metropolitano passa do estado para a União
RIO - Depois de ter pago 60% da construção do Arco Metropolitano — a União financiou o restante da obra, que consumiu, no total, R$ 1,9 bilhão — , o governo estadual desistiu de administrar a rodovia, considerada a intervenção estratégica mais importante dos últimos anos no Rio de Janeiro. No mês passado, a estrada, que liga o Porto de Itaguaí a Itaboraí e vem sendo subutilizada por causa da violência, foi devolvida ao governo federal. Com a mudança, o estado, que tomava conta provisoriamente da via desde 2014, deixará de gastar R$ 19 milhões por ano na manutenção de seus 72 quilômetros, agora sob responsabilidade do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT).
Segundo a Secretaria estadual de Obras, a devolução, que estava sendo negociada desde fevereiro, foi causada pelo agravamento da crise econômica, que “provocou um crescente desequilíbrio nas finanças do estado, impossibilitando o governo de arcar com os custos da rodovia”. O governador Luiz Fernando Pezão, no entanto, diz que há ainda um outro motivo por trás da desistência:
— Estávamos negociando para fazer a concessão da via, mas o governo federal não aceitou. Disse que ele mesmo ia fazer (a privatização). Então, entregamos.
Procurado, o Ministério dos Transportes confirmou que foi iniciado um estudo para a concessão federal do trecho, mas afirmou que ainda não há prazos definidos.
Com a mudança, o patrulhamento do Arco Metropolitano, que era feito por homens do Batalhão de Polícia Rodoviária da PM, passou a ser responsabilidade da Polícia Rodoviária Federal. Na segunda-feira, uma equipe do GLOBO percorreu o trecho entre Duque de Caxias e Itaguaí sem cruzar com nenhuma patrulha.
iluminação precária
Também foi difícil encontrar trechos bem iluminados. Não havia sequer um quilômetro de pista, no início da noite, com todas as luzes acesas. A escuridão se faz presente porque ladrões têm levado as baterias que armazenam energia solar nos postes. Para conseguir alcançar os equipamentos, os criminosos muitas vezes derrubam as estruturas. Pelas contas da Secretaria estadual de Obras, cerca de 200 foram danificadas — uma perda de mais de R$ 4,4 milhões, já que cada unidade custou ao estado aproximadamente R$ 22 mil.
Em Seropédica, a situação era ainda mais grave: a rodovia estava um breu, facilitando os assaltos à mão armada. A violência tem sido, aliás, uma queixa frequente dos motoristas que ainda se aventuram pela região: a previsão inicial era que o Arco atraísse 30 mil veículos por dia, mas, atualmente, só 15 mil usam a via. Na segunda-feira, com medo de ataques de ladrões de carga, cinco caminhoneiros optaram por viajar em comboio.
Os problemas de manutenção também afetam a fiscalização eletrônica de velocidade. No trecho entre Duque de Caxias e Itaguaí, onde a equipe do GLOBO localizou três radares fixos, dois deles não funcionavam: os aparelhos estavam danificados, em postes envergados. A sinalização também era precária, com diversas placas quebradas. Na altura de Seropédica, os indicadores de sentido, tanto na direção do Rio, quanto na de Itaguaí, foram arrancados pela metade.
Um relatório da Câmara Metropolitana, divulgado há quatro meses, mostrava ainda irregularidades na faixa de domínio da rodovia, como construções clandestinas de imóveis, comércio improvisado, apropriação de terras públicas e abertura de pelo menos 79 acessos ilegais.
Em nota, a Polícia Rodoviária Federal informou que as rondas são feitas “com viaturas e motocicletas, baseadas em outras rodovias próximas”.
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