Nossos erros para salvar o que chamamos de democracia
- Tudo errado na ‘reação’ a invasão da Praça dos Três Poderes, em 8 de janeiro. O antes, o depois e o agora são um quadro piorado de um País confuso. Um misto de omissão e paralisia geral do Estado Brasileiro, que cria um caldo de cumplicidade e suspeição difícil de definir.
Os atos de 8 de janeiro no Brasil costumam ser comparados ao ataque ao Capitólio, dois anos antes, quando manifestantes pró Trump invadiram o Congresso dos Estados Unidos para impedir a sessão que confirmava Joe Biden como presidente eleito. Só que nos Estados Unidos o ataque ao Capitólio é considerado uma insurgência, uma rebeldia contra uma ordem estabelecida, não um ataque à democracia, como no Brasil. E o caso não foi investigado pela Suprema Corte, mas pelo FBI, o Departamento de Justiça e promotorias distritais que fizeram mais de 900 prisões.
Ao contrário do Brasil, que tinha novo presidente empossado, nos EUA, onde as forças de segurança ainda estavam sob o comando de Trump, pois ainda era presidente, o Capitólio foi defendido pela polícia, o que resultou em ferimentos de centenas de policiais.
No Brasil ao menos três pelotões da Guarda Nacional ficaram imobilizados no prédio do Ministério da Justiça porque o ministro Flávio Dino queria uma autorização do governador de Brasília, Ibaneis Rocha, acusado de conspiração, para agir.
Tudo errado, um misto de omissão e paralisia geral do Estado Brasileiro, que cria um caldo de cumplicidade e suspeição difícil de definir.
A Suprema Corte dos EUA não interferiu nas investigações, a não ser para negar um pedido de Donald Trump para impedir a divulgação de registros da Casa Branca com relatos do episódio, confirmando sentença de um tribunal de apelações.
No Brasil a investigação iniciou na noite da invasão dos três poderes. O inquérito do fim do mundo está sob o comando de um ministro do Supremo, cujas declarações, o tornam suspeito de participar de qualquer julgamento.
Mas nesta quarta-feira Alexandre de Moraes votou e não se deu conta da liturgia do cargo, repetindo os palavrões de um dos acusados para todo mundo ouvir:”porra, caralho”.
O mundo mudou, mas o Supremo insiste em continuar o mesmo. A esperança é que, como guardião da Constituição, um dia mude.
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.