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No Amazonas, políticos têm medo do 'chefão do bairro' e precisam de licença para falar com eleitores


Por Raimundo de Holanda

03/04/2022 20h27 — em
Bastidores da Política



Com o Estado praticamente sitiado - piratas assaltando, matando e tocando o terror nos rios do Amazonas - e duas organizações criminosas dominando parte dos bairros de Manaus, utilizando a força das armas  e a ameaça à vida como  forma de ocupação e domínio, o tema segurança torna-se, mais uma vez, fundamental para os candidatos ao governo, mas esbarra na dinâmica da própria eleição: chegar pessoalmente ao eleitor, entrar em alguns bairros hoje só é  possível com um passaporte fornecido pelos lideres dessas organizações.

Na prática, já há um conformismo das autoridades com a ocupação de áreas urbanas inteiras pelas facções criminosas, ou seus soldados não atuariam da forma desassombrada como atuam.

Dos 74 homicídios ocorridos em janeiro deste ano, 60 são atribuídos a esses grupos. Dos 1072 registrados ano passado, 900 teriam sido praticados por essas organizações.

É um problema sério, que  se não for focado com coragem, em claro desafio ao crime, qualquer promessa de segurança resultará em estelionato, que será cobrado lá na frente pelos eleitores.

Quem pedir permissão  dos “donos de zonas” para falar com eleitores sitiados em bairro - qualquer bairro - não merece o voto de ninguém.

É tão criminoso quanto o gangster, porque não estará fazendo outra coisa senão vendendo a liberdade e a segurança de cidadãos que começam a ver eleições como saídas para seus problemas, embora muitos de seus problemas estejam nas escolhas que fazem.

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Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.