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Maurício Souza, Super-Homem bissexual e a hipocrisia da mídia


Por Raimundo de Holanda

27/10/2021 18h35 — em
Bastidores da Política



A liberdade de se expressar não se resume mais a um número restrito  de pessoas. As redes sociais são a porta pela qual todo mundo diz alguma coisa. Mas nunca, como agora, a liberdade foi tão ameaçada. E não se trata apenas da ingerência de governos. A censura parte também e com mais frequência da mesma multidão que grita, se exaspera, reivindica, julga e condena.   

Apesar de todo mundo falar ao mesmo tempo, predomina  o conceito autoritário do politicamente correto.

É bom falar, comungar do que é correto, mas não se  apropriar de um conceito que na prática se revela uma flagrante hipocrisia. É autoritário exigir que o outro pense igual a você, que comungue de seus ideais.

A  coisa tomou uma dimensão maior no caso do jogador  Maurício Souza porque  se as redes sociais são o subterrâneo do inferno, em torno delas, pescando literalmente, há os predadores: meios de comunicação tradicionais que, para sobreviver as novas mídias , se tornaram uma caixa de ressonância de suas falas. Ai o bicho pega.

A manifestação do jogador do Minas sobre o anúncio da DC Comics, de que a nova série de quadrinhos mostrará um Super-Homem bissexual causou um tremendo reboliço. E o que ele disse não teve nada de homofóbico. Textualmente escreveu o seguinte:

“É só um desenho. Não tem nada demais. Vai nessa e vai ver onde vamos parar”.

Onde está a homofobia de Maurício? Não está na frase do jogador. A homofobia está na interpretação equivocada, maliciosa,  dada à postagem que ele fez de forma inocente, como qualquer cidadão com direito a opinar. E a mídia tradicional teve um papel lamentável no  desfecho trágico para a carreira do atleta, que perdeu patrocínio e foi dispensado pelo clube.

Bom seria que o Super-Homem continuasse heterossexual, mas os tempos mudaram. Mesmo  a nova geração do Homem de Aço tem o direito de amar outro homem. Depois será vez de a   Mulher Maravilha, desenho também produzido pela DC, aparecer bissexual.

É que o mundo cansou da rotina dos casais tradicionais, mas o preconceito não morreu, especialmente no Brasil, um país multirracial, mas onde a maioria se declara branca.  Um país  onde a policia mata negros todos os dias porque entende que a cor da pele externa uma suspeita; um país onde gays são espancados, perseguidos, discriminados e pouca coisa é feita para pôr um fim a esse inferno.

O problema do Brasil é a hipocrisia. 

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Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.