Lula tenta colocar o dedo na liberdade de expressão no Brasil
A internet tornou-se um grande espaço para demandas diversas, onde as pessoas conversam e os anônimos ganham nome e prestígio. Um mercado onde tudo é vendido - produtos, beleza, sexo, ideias. Uma praça onde o povo frequenta, numa profusão de corpos, sons e cores. E Lula quer colocar o dedo em nome da “verdade sobre o seu governo”, que “não pode ser deturpada”.
Esse receio de que atos do governo sejam “mal interpretados” ou deturpados apenas sinaliza que há uma sinistra predisposição de censurar ideias e de eliminar ou silenciar os que pensam diferente. Democracia não se reconstrói - e é preciso reconstruir o que foi acintosamente destruído - com censura.
O novo governo - eleito de forma democrática - e isso precisa ser aceito por todos - não pode construir narrativas sobre fatos que ainda não ocorreram, ou fazer previsões de que as redes sociais servirão de alavanca para atos não democráticos. Há excessos sim, aqui e ali, mas é preciso cautela. Muita cautela.
Os governos de um modo geral - e essa era a tendência do PT 20 anos atrás, mas recuou ante a pressão de uma imprensa ativa e sem os disfarces de hoje - tentam controlar a verdade com falsas narrativas. O nome da recém criada Procuradoria de Defesa da Democracia, eufemismo para controle do pensamento e delimitar a liberdade de expressão, é parte de uma ideia autoritária que não pode ser tolerada pela sociedade brasileira.
Fala-se agora em criar nova legislação como torniquete contra a livre manifestação de pensamento. O Congresso não pode permitir um atentado à liberdade, aprovando leis excepcionais que minam a própria democracia.
Os políticos precisam entender que dependem muito das redes sociais para se comunicar com seus eleitores, e que essas mesmas redes são o que antigamente era um espaço de rua, chamado de “praça do povo”, que nunca foi do povo, por ser mal cuidado. Às vezes cercada com grades para impedir o acesso de pessoas pelo poder público.
Hoje o povo está onde há ruídos, vozes, corpos e ideias. Tudo o que vem sendo ameaçado pelo novo governo, que ao que parece não sabe conviver com as diferenças.
Pior, há a ideia de estabelecer penas mais severas. Para quê? Há uma legislação sobre a questão das fake news, há um marco da internet. Novas leis que visam restrição de direitos apenas conferem ao Judiciário mais poderes.
O Congresso tem que dar demonstração de que é Casa do Povo, não dos governos de ocasião, que se alternam a cada 4 anos.
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ASSUNTOS: censura, Liberdade de Expressão, Lula, PT, redes sociais
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.