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Lula faz dos rios da Amazônia um negócio e privatiza lucro


Por Raimundo de Holanda

15/11/2025 18h56 — em
Bastidores da Política


  • A contradição do governo Lula em relação à Amazônia atingiu um grau inédito neste semestre. Enquanto a BR-319 permanece demonizada sob o pretexto de um licenciamento ambiental interminável, o mesmo governo abandona qualquer rigor técnico quando decide “monetizar” os rios Tapajós, Tocantins e Madeira por simples decreto.

Esse contraste não é detalhe: ele revela duas medidas totalmente diferentes para problemas parecidos — e isso tem impacto direto na vida de quem vive na Amazônia. Para restaurar a BR-319, uma rodovia que existe há décadas, o governo exige estudos sem fim, novas análises, atualizações e mais condicionantes. Sempre falta alguma coisa.

Na mesma esteira, quando se trata de privatizar hidrovias gigantescas, que também cortam regiões indígenas, ribeirinhas e áreas sensíveis, não há estudo ambiental, não há consulta prévia às comunidades indígenas, não há debate público prévio — e, com apenas um decreto presidencial, o projeto é liberado. É como se atestassem: o rigor só aparece quando é para dizer “não” à estrada.”

O governo fala em transformar água e navegação em oportunidades econômicas. Mas, na prática, quer monetizar o projeto enquanto demoniza a BR-319. E o pior: empresas privadas ficam com a parte lucrativa da navegação. Isso porque o Estado — ou seja, o contribuinte — fica com as partes caras: dragagem, manutenção e riscos ambientais. O lucro será privado, mas o prejuízo, cujo risco por vir é enorme, será público.

Dragagem e obras no leito dos rios são caras e perigosas. E quem vive às margens desses rios — indígenas, ribeirinhos, pescadores — sequer foi ouvido. 

Modificar rios da Amazônia não é como trocar o asfalto de uma rua ou repavimentar uma estrada. Envolve mexer no fundo do rio, mudar o fluxo da água, afetar peixes, praias, ilhas, margens e comunidades inteiras. É uma obra pesada, arriscada, cara e de impacto profundo.

E, justamente por ser assim, deveria haver: estudo ambiental completo, consulta às comunidades afetadas, planejamento conjunto com órgãos ambientais. Mas nada disso ocorreu antes do decreto. Resta, então, um evidente paradoxo em relação à repavimentação da BR-319. 

Será apenas falta de coerência — ou há algo estranho que nossos sentidos ainda não conseguiram perceber?

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Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.