Ufam obriga professores e técnicos a devolver salários por atraso em pesquisas e causa protestos

Mais de 30 professores e técnicos da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) que, no período da pandemia de Covid-19, estavam afastados de suas funções para cursos de mestrado e doutorado, estão sendo obrigados administrativamente a devolver os valores de benefícios e salários de 48 meses recebidos mesmo tendo concluído os trabalhos.
Como os processos administrativos são sigilosos os valores também não são divulgados e nem mesmo a quantidade de professores e técnicos que estão ou estarão sendo cobrados, estima-se que o número pode duas ou três vezes o atual. Há estimativas de que os valores, que variam de acordo com o vencimento de cada professor, podem ultrapassar R$ 450 mil por serem o acúmulo de 48 meses de salários e benefícios.
O fato só está sendo divulgado agora porque a maioria dos que recorreram à instituição de ensino para contestar as cobranças e justificar o atraso não estão conseguindo sequer ser ouvidos.
Um dos professores, que procurou o Portal para denunciar esse fato e pediu anonimato para não ser mais prejudicado, relata que por conta da pandemia, que paralisou a Ufam mais de um ano, todos os professores afastados foram prejudicados, especialmente os que estudavam fora do Estado, em relação aos prazos de entrega dos trabalhos.
E nem mesmo aqueles que viveram situações de doenças na família, agravamentos por conta da Covid e a crise vivida em Manaus por conta da falta de oxigênio, conseguem demover a administração da Ufam de cobrar a devolução desses valores, ainda que apresentando atestados médicos.
Cada recurso é negado em todas as instâncias internas e a universidade não aceita suspender a cobrança pela devolução, ainda que os cursos tenham sido concluídos pelos técnicos e docentes.
De acordo com esse professor, instituições como a Universidade de Campinas (Unicamp), em São Paulo, decretaram o aumento de dois anos do período de conclusão dos cursos após a pandemia, mas a Ufam, apegada a um legalismo injustificável, ignora o período da pandemia.
“Não tínhamos resolução do Conselho Superior da Instituição, o Consuni, que respaldasse o prazo que foi subtraído dos pós-graduandos devido ao fechamento das universidades na época da pandemia. Nosso tempo de pesquisa foi roubado pela pandemia e vamos ter que pagar por isso”, desabafa.
Oficialmente, a Ufam suspendeu o calendário de graduação, mas não o de pós-graduação e baseada nisso, cobra a devolução ao erário, explica o professor, citando que a cobrança causa não só mal-estar, mas também desespero e agonia porque, mesmo que conclua o trabalho, vai ter que devolver à instituição a única fonte de sustento e alimentação, já que são de dedicação exclusiva a ela.
A reportagem pediu informações da Reitoria, por meio da Assessoria de Imprensa, mas até o momento não recebeu retorno.

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