O Portal do Holanda recebeu, nesta sexta-feira, 19/12, para entrevista Robério Braga, uma das maiores referências da cultura no Amazonas. Professor, advogado, pesquisador e gestor público, ele esteve à frente da Secretaria de Estado de Cultura por 21 anos, período em que ajudou a construir bases duradouras para o desenvolvimento cultural do estado.

Durante a conversa, Robério Braga afirmou que uma de suas primeiras e mais relevantes missões foi a criação e implantação da própria Secretaria de Cultura do Amazonas. 

“Nós tivemos a incumbência de criar e instalar a Secretaria de Cultura. A partir dali, foi possível pensar e executar uma política cultural estruturada, com visão de longo prazo”, destacou.

Segundo ele, essa organização institucional foi decisiva para que as ações não ficassem restritas a projetos pontuais.

Entre essas decisões, Robério destacou a criação dos corpos artísticos vinculados ao Teatro Amazonas, como a Amazonas Filarmônica, o Coral do Amazonas e o Corpo de Dança do Amazonas. Também foram implantadas iniciativas como a orquestra de jazz, a orquestra de violões e o balé folclórico.

 “Esses corpos artísticos deram vida ao Teatro Amazonas e estruturaram uma cadeia permanente de formação, produção artística, emprego e renda”, afirmou.

O ex-secretário também apontou como um dos maiores legados de sua gestão a criação do Liceu de Artes e Ofícios Cláudio Santoro, classificada por ele como uma ação de impacto duradouro. 

“Talvez a decisão de maior repercussão a longo prazo tenha sido o Liceu. Ele formou gerações de músicos, bailarinos e artistas que hoje atuam profissionalmente”, ressaltou.

Nesse mesmo eixo da formação, Robério Braga relembrou a implantação do Curso de Artes da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), criado no início da universidade, durante a gestão do então reitor Lourenço Braga. 

“A criação do curso de Artes foi fundamental para consolidar o ensino superior na área cultural no estado”, afirmou.

Do ponto de vista do patrimônio histórico, Robério destacou o investimento na qualificação técnica. 

“Nós formamos pessoal especializado, criando uma equipe de técnicos capacitados em várias partes do Brasil e do mundo. Isso gerou uma base profissional que hoje atua diretamente na preservação do nosso patrimônio”, explicou.

Outro ponto central abordado na entrevista foi a formação de público. Segundo ele, quando assumiu a Secretaria, o Teatro Amazonas era um monumento restaurado, mas sem função artística contínua. 

“O teatro não tinha vida cultural. Era um patrimônio arquitetônico, mas não havia atividade regular nem a percepção, por parte do público, da importância histórica daquele espaço”, relembrou.

Para mudar esse cenário, foram criados festivais, programações permanentes e ações de intercâmbio.

 “Nosso trabalho foi formar público, criar festivais e permitir o contato entre artistas locais e de fora, preparando uma geração de artistas e projetando o Amazonas”, afirmou. Formar público é um ponto fundamental, porque garante a continuidade e a sustentabilidade das políticas culturais” ressaltou.

Ao final da entrevista, Robério Braga avaliou que o conjunto dessas ações explica por que muitas das políticas implantadas durante sua gestão seguem impactando a cultura amazonense. 

“Cultura exige planejamento de longo prazo. Quando se entende a cultura como vetor de identidade, desenvolvimento social e geração de oportunidades, os resultados permanecem”, concluiu.