Número de pessoas mortas pela polícia sobe 61% e puxa alta da violência em SP
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O estado de São Paulo teve um aumento de 8% nos registros de mortes violentas no último ano movimento que foi puxado por um crescimento de 61% no número de pessoas mortas pela polícia.
Ao todo, foram 3.751 casos em 2024 ante 3.480 em 2023. O índice de mortes violentas foi desenvolvido pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e soma homicídios dolosos, latrocínio, lesão corporal seguida de morte e morte decorrente de intervenção policial. Apesar da alta, São Paulo segue com a menor taxa de mortes do país, com 8,2 casos para cada 100 mil habitantes.
Esse último recorte, de letalidade policial, disparou no ano passado. Foram 813 mortos pela polícia no ano passado, 309 casos a mais do que os 504 de 2023, o primeiro ano da gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos). Oito de cada dez vítimas foi morta por PMs em serviço.
Esse aumento contrasta com a queda de 3,6% no número de homicídio dolosos de 2,728 casos em 2023 para 2.630 no ano passado. No mesmo período 32 policiais foram assassinados em serviço ou de folga, 3 ocorrências a mais do que em 2023.
Um dos episódios que contribuiu para o crescimento na letalidade policial foi a Operação Verão, ocorrida na Baixada Santista de fevereiro a abril do ano passado, que teve como saldo a morte de 56 pessoas por policiais militares. As ações tiveram início depois da morte do soldado da Rota (tropa de elite da PM) Samuel Wesley Cosmo, 35, em uma favela em Santos.
Os dados tabulados pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, que fazem parte do 19° Anuário Brasileiro de Segurança Pública, ainda indicam aumento de 68% nas lesões corporais seguidas de morte (de 82 para 138) e quatro vítimas a mais em ocorrências de latrocínio (de 166 para 170).
"Olhando no geral, o que puxa para cima é a letalidade policial. Ela representou 22% do total de mortes violentas intencionais. No ano anterior era 14%. Tem muito a ver com a política pública", disse David Marques, coordenador de projetos do Fórum, responsável pelo estudo.
"A gente teve uma mudança na gestão do estado em 2023, o debate eleitoral foi muito marcado pela segurança pública, se câmeras eram positivas ou negativas. Tarcísio disse que era contra, depois, deu um passo para trás. Tivemos as operações Escudo e Verão. Exemplos de ações desastrosas da Polícia Militar."
Antes crítico das câmeras, Tarcísio fez um aceno positivo ao uso dos equipamentos após um homem ter sido jogado de uma ponte por um policial militar durante uma abordagem ao final do ano passado. "Eu admito, estava errado. Eu me enganei, e não tem nenhum problema eu chegar aqui e dizer para vocês que eu me enganei, que eu estava errado, que tinha uma visão equivocada sobre a importância das câmeras [corporais]", disse o governador na ocasião. "Eu era uma pessoa que estava completamente errada nessa questão. Eu tinha uma visão equivocada."
Além das ações policiais, David Marques aponta os roubos seguidos de morte como uma espécie de termômetro para a sociedade. "O latrocínio é o que mais prejudica a sensação de segurança da população. O melhor a fazer é esclarecer os casos e responsabilizar os agressores, embora sejam menos frequente que outros tipos de violência."
Pesquisa Datafolha publicada em março de 2024 apontou para 23% dos paulistanos como a segurança o maior problema da cidade, seguida da saúde, com 16%.
ROUBOS E FURTOS
O roubo e furto de celulares, crimes comuns na capital paulista, registrou mais de 100 mil ocorrências no ano passado. Tal situação levou São Paulo a ser disparada a unidade federativa com mais notificações do tipo.
No entanto, de acordo com o Anuário, houve queda nos registros. Foram 118.181 notificações de roubo no ano passado contra 150.159 em 2023, recuo de 21%.
Em relação aos furtos foram 21.650 queixas a menos, queda de 12%. Os roubos e furtos de automóveis também recuaram no período.
"A gente tem um cenário patrimonial de migração. Existe uma tendência de redução no crescimento de outras modalidades de crime patrimonial, mas crescimento no ambiente digital, com mais estelionatos", disse David Marques.
"São Paulo conseguiu alcançar uma redução [no roubo e furto de celulares], porém a taxa ainda é superior a média nacional. Para além do patrulhamento ostensivo é necessário trabalho de investigação por parte da Polícia Civil, para desarticular as principais quadrilhas e organizações criminosas que agem nesse meio", acrescentou.
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Mortes violentas intencionais* em São Paulo
Soma de vítimas por ano no estado
2012 - 6.328
2013 - 5.472
2014 - 5.818
2015 - 5.196
2016 - 4.926
2017 - 4.831
2018 - 4.315
2019 - 4.076
2020 - 4.157
2021 - 3.666
2022 - 3.737
2023 - 3.480
2024 - 3.751
*Mortes por homicídios dolosos, latrocínios, casos de lesão corporal seguida de morte e mortes decorrentes de intervenção policial
Fonte: 19º Anuário Brasileiro de Segurança Pública
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