Dois PMs são presos por morte de homem rendido em Paraisópolis
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Dois policiais militares foram presos por matarem uma pessoa na favela de Paraísopolis, na zona sul de São Paulo, na ação que desencadeou protestos e vandalismo na noite desta quinta-feira (10).
Segundo a corporação, a vítima era suspeita de tráfico de drogas. Análise das câmeras corporais mostrou que os agentes mataram o homem quando ele já estava rendido, segundo o coronel Emerson Massera, chefe da comunicação da PM paulista, em entrevista coletiva nesta sexta-feira (11).
"Embora ali estivesse bem configurado o crime de tráfico, a ação dos policiais foi uma ação não legítima, uma ação ilegal", disse o representante do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Durante a tarde e a noite de quinta, moradores atearam fogo em pneus e pedaços de madeira, viraram carros e fecharam algumas ruas do local. O tumulto foi sucedido de nova operação em que mais um homem foi morto e um agente da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar, tropa de elite da PM) ficou ferido.
A ação policial teve início por volta das 16h para verificar informações do Disque-Denúncia que apontavam um ponto de venda de drogas próximo à rua Rudolf Lotze, segundo a PM. Quatro suspeitos com mochilas nas costas fugiram em direção a uma casa quando a polícia entrou na rua, ainda de acordo com Massera.
Os suspeitos foram encontrados dentro da casa. As imagens de câmeras corporais mostraram que um deles Igor Oliveira de Moraes Santos, 24 já estava rendido e com as mãos na cabeça quando dois policiais fizeram disparos.
"Não havia nada que justificasse, nesse momento, o disparo por parte da força policial", afirmou o coronel Massera. "Visualizamos pelas câmeras que dois policiais que atiraram no Igor o fizeram já com o homem rendido e, por conta disso, a providência adotada imediatamente foi a prisão em flagrante dos policiais militares."
A PM não informou quantos tiros foram disparados, mas relatou foram usados calibres 12 (espingarda) e .40 (pistola). Os outros três suspeitos foram presos.
Igor já tinha sido internado na Fundação Casa quando era menor de 18 anos por atos infracionais análogos a roubo e tráfico de drogas. A corporação também informou que os outros três suspeitos também tinham antecedentes criminais por infrações como roubo, tráfico de drogas e furto.
Nas mochilas, segundo a polícia, foram encontrados 595 porções de maconha, 521 porções de cocaína, 208 porções de crack, 49 porções de maconha sintética, 22 frascos de lança-perfume, 32 comprimidos de ecstasy e 4 comprimidos de LSD, além de R$ 1.300 em dinheiro.
Os dois policiais presos foram indiciados por suspeita de homicídio doloso, ou seja, com intenção de matar. A equipe que participou da morte tinha quatro PMs ao todo. Os agentes que não foram presos também devem ser investigados.
O chefe da comunicação da PM disse que as imagens foram gravadas com os novos modelos de câmeras corporais, e que elas foram acionadas automaticamente via tecnologia bluetooth após um dos policiais acionar seu equipamento.
Após o início dos atos de vandalismo, que tiveram início após a morte de Igor, a PM demorou cerca de três horas e meia para controlar a situação em Paraisópolis. Um efetivo de mais de 350 policiais foi usado para cercar a favela e dominar as ruas e vielas.
A segunda vítima foi identificada como Bruno Leite, 29. Ele morreu durante confronto com policiais da Rota em meio aos tumultos. Houve troca de tiros intensa entre policiais e suspeitos, segundo a PM.
Os agentes teriam ficado encurralados por um grupo de pessoas, alguns deles armados, e tiveram de ser resgatados por PMs do 3º Batalhão de Choque.
Um sargento da Rota ficou ferido na ação que resultou na morte de Leite, após levar um tiro no ombro. Massera afirmou que essa ação também foi gravada por câmeras corporais e que, a princípio, nenhum indício de ilegalidade foi encontrado nas imagens. Uma investigação sobre esse caso também foi aberta, disse ele.
O segundo homem morto já tinha sido cumprido pena e já respondeu por tráfico de drogas, furto e roubo, segundo a PM.
Um suspeito foi preso durante os atos de vandalismo ao tentar incendiar um carro. Ele também é já foi preso por associação criminosa, segundo a corporação.
Na manhã desta sexta-feira, a PM reforçou a segurança no local.
Massera caracterizou os ataques a carros e os incêndios intencionais como uma intimidação às autoridades, e disse que o crime organizado no local tenta "medir força" com o Estado. O coronel afirmou também que o crime de tráfico de drogas estava caracterizado tanto contra o homem morto quanto contra outros três suspeitos presos na ação, e lamentou que policiais tenham agido de forma ilegal.
"Da mesma forma como somos implacáveis com o crime, também não pactuamos com erros de policiais", disse. "Reconhecemos os nossos erros, lamentamos o erro, os policiais responsáveis já estão respondendo por isso, mas não podemos retroceder no sentido de dar dignidade à população."
CORONEL DESMENTE RELATO DA POLÍCIA
Massera também desmentiu informações preliminares, divulgadas inclusive por policiais, de que os quatro homens classificados como suspeitos foram presos num depósito de armas e drogas do crime organizado na favela (ou casa-bomba, no jargão policial). "Não era uma casa-bomba", afirmou.
O chefe da comunicação da PM disse que se tratava de uma casa comum da comunidade, e que os policiais teriam chegado até lá inclusive com a ajuda de moradores. Massera afirmou que há uma denúncia sobre a presença de um depósito de drogas e armas na comunidade, mas que isso ainda precisa ser investigado.
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