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A busca excessiva pela perfeição é um problema coletivo, diz sociólogo

Por Folha de São Paulo

07/07/2025 8h45 — em
Variedades



SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Em uma sociedade onde a produtividade e a performance são sempre demandadas, perfeccionista se tornou uma qualidade positiva. Somada à exposição constante das redes sociais, a busca pela perfeição é uma constante. Se você se identificar com esse perfil, saiba que essa é uma questão coletiva. É o que escreve o sociólogo, professor e pesquisador Luís Mauro Sá Martino em seu livro "Ninguém É Perfeito", da editora Best Seller (Grupo Record).

Já em 1967, o marxista Guy Debord apontava que viveríamos uma "sociedade do espetáculo", onde a aparência e a mercadoria importariam mais do que as relações sociais. Depois de 52 anos da primeira publicação do francês, o filósofo sul-coreano Byung- Chul Han afirma que a pressão pelo desempenho e excesso de positividade estão nos levando ao esgotamento.

Os avanços tecnológicos e comunicacionais trazem também visibilidade que, consequentemente, levam à cobrança constante e à pressão para entregar o melhor resultado. Dessa forma, a sensação é de que se está sempre atrasado e sempre em dívida consigo e com o outro.

"Ser perfeccionista muitas vezes está ligado à ideia de uma ansiedade pela perfeição, essa busca pela perfeição a qualquer custo, e em geral o custo é alto", discute Martino. Esse padrão, segundo o sociólogo, afeta negativamente todas as pessoas, mas não da mesma forma.

Como toda questão social, ela varia dependendo de qual grupo estamos falando. Os grupos com maior vulnerabilidade social --de acordo com gênero, raça, etnia, sexualidade-- irão sentir a pressão de uma forma mais exacerbada do que os demais, mas não há escapatória para ninguém.

É aí que surge um paradoxo: ao mesmo tempo em que buscamos a perfeição e o otimismo, as taxas de depressão e ansiedade nunca estiveram tão altas. "Eu não acredito que seja coincidência. O que nós fazemos com as nossas sombras numa sociedade onde a luminosidade é obrigatória?", questiona Martino.

No livro, o sociólogo escreve que a ideia da perfeição, pautada numa indústria da baixa autoestima, está contribuindo para formar gerações de narcisistas deprimidos. O senso comum pauta que o narcisista é uma pessoa "cheia de si", mas seu comportamento demanda constante aprovação.

"Eu preciso, a cada postagem, ter o aceite do planeta para eu lembrar o quanto eu sou legal. Se o meu post flopar [fracassar], esse meu narcisismo já vai estar em xeque outra vez", explica o sociólogo. "Toda a minha fragilidade vem à tona e eu fico deprimido".

A busca pela aprovação e pelo reconhecimento é a máxima que alimenta o que o autor chama de indústria da baixa autoestima, que tem como objetivo te convencer que existe um problema, para então vender a solução. "Só que aí a gente chega no coração do paradoxo. Se a versão de mim que eu tenho não é boa, não é a melhor, que versão é essa?"

Enquanto isso, as mídias sociais expõem o melhor lado de cada um, criando a ilusão de que todos estão bem e felizes, menos a pessoa que está rolando a tela, que se sente pressionada e fracassada. Isso faz com que pareça que o problema da busca incessante pela perfeição é individual e potencializa a sensação de solidão.

"E o indivíduo isolado, se enfraquece", fala Martino. "Uma sociedade onde o problema é coletivo tende a individualizar a pessoa para que ela não perceba que a solução está no nós e reduz a solução ao eu. Porque é mais fácil vender uma solução para o eu."

Como sociedade, ele discute que começamos agora a falar sobre isso, o que é só o primeiro passo. Apesar de afirmar que não existe uma solução individual para um problema coletivo, o pesquisador diz que um paliativo é saber e respeitar seus limites.

Martino explica que a diferença entre perfeição e virtude é que, enquanto a perfeição tenta alcançar um ideal, a virtude é o exercício para se tornar a melhor versão de você mesmo, em um passo de transformação que é também libertador.

"Tomar consciência é aprender a lidar com coisas com as quais você não conseguiria lidar se você não soubesse quem você é. Então daí a ideia de tornar-se quem se é é acolher os pedaços que não são bonitos."

Ninguém É Perfeito

Preço R$ 54,90 (224 págs.)

Autoria Luís Mauro Sá Martino

Editora Best Seller (Grupo Editorial Record)


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