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Aliados de Lula apostam em investigação da PF para reduzir dano eleitoral com crise do INSS

Por Folha de São Paulo

22/05/2025 20h00 — em
Política



BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Aliados do presidente Lula (PT) temem o impacto que o escândalo dos descontos ilegais em aposentadorias e pensões no INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) pode produzir sobre uma campanha do petista à reeleição.

Segundo relatos colhidos pela reportagem com integrantes do Executivo, parlamentares governistas e aliados do petista, há um receio de que essa crise invada o calendário eleitoral de 2026.

Apesar desse cenário, que admitem como altamente desfavorável, dizem que ainda há mais de um ano pela frente para reverter a situação e apostam no avanço das investigações da Polícia Federal para desidratar uma CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) no Congresso.

Esses aliados também dizem que o governo trabalha para restituir os aposentados que foram alvo desses descontos ilegais e que, uma vez realizados esses pagamentos, o impacto do escândalo na imagem do Executivo será minimizado.

Com o ressarcimento e o avanço das investigações, inclusive sobre a responsabilidade da gestão de Jair Bolsonaro (PL), o governo tenta mostrar que foi o único que agiu para deter as fraudes.

Pretende ainda ganhar tempo para pôr em prática seu plano antes da eventual instalação da CPMI, na tentativa de argumentar que uma apuração paralela do Congresso seria desnecessária, além de causar turbulência em um ano eleitoral.

Em outra frente, aliados do presidente tentam reforçar que o arcabouço legal que possibilitou as irregularidades foi constituído no governo Bolsonaro.

Nessa batalha, um dos argumentos será o de que uma instrução normativa do INSS editada no fim da gestão passada, por exemplo, abriu brecha para irregularidades no consignado.

Apesar do discurso adotado pelo Palácio do Planalto de que as ilegalidades começaram em gestões anteriores, esses políticos reconhecem que há desgastes para o governo —segundo pesquisas internas, o escândalo neutralizou o esforço de recuperação da avaliação do presidente que vinha sendo feito pelo governo.

Integrantes da oposição têm usado o caso para desgastar a imagem do governo federal. Viralizou nas redes sociais um vídeo do deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) no qual ele acusa Lula de omissão enquanto argumenta que Bolsonaro apresentou medida que protegia aposentados —embora o ex-presidente tenha sancionado, sem veto, fim do controle sobre o desconto dos benefícios.

A oposição se mobilizou e conseguiu as assinaturas necessárias para protocolar o pedido de CPMI. Nesta quinta (22), o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), anunciou que o requerimento será lido na próxima sessão do Congresso, em 17 de junho.

Com a proximidade das festas juninas e do recesso parlamentar de julho, congressistas já admitem que a CPMI só deve começar a funcionar no segundo semestre.

Depois da leitura do requerimento, os partidos precisam indicar os membros, negociar posições chaves como relatoria e presidência, e acertar uma data para a instalação da comissão.

Diante das dificuldades para impedir a abertura da comissão, aliados de Lula trabalham para traçar estratégias para conter danos, com foco na ampliação da investigação para englobar também aliados de Bolsonaro.

Além disso, reservadamente, governistas dizem que as investigações sobre o escândalo podem afetar, além de nomes da gestão Bolsonaro e parlamentares aliados ao ex-presidente, representantes do centrão. Nesse sentido, afirmam que isso também pode ser um fator para que congressistas atuem no esvaziamento dos trabalhos da comissão.

Por outro lado, um aliado de Lula diz que o governo não pode ficar de braços cruzados esperando qualquer avanço das investigações para reagir.

Segundo ele, além de realizar o ressarcimento dos aposentados que foram lesados, o Executivo e parlamentares governistas precisam, desde já, reforçar a comunicação para enfrentar esse debate político nas redes sociais —atualmente, a avaliação é que a narrativa da oposição tem ganhado mais espaço.

A Operação Sem Desconto foi deflagrada pela PF no dia 23 de abril. No mesmo dia, Lula mandou exonerar o então presidente do INSS, Alessandro Stefanutto. Desgastado, o ministro Carlos Lupi, do PDT, deixou a pasta da Previdência em 2 de maio, sendo substituído pelo ex-deputado federal pedetista Wolney Queiroz, que era o número 2 do ministério.

Nesta quinta, o governo anunciou que agências dos Correios pelo país atenderão beneficiários do INSS para pedidos de devolução dos descontos indevidos.


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