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A vida sem filtros: por que buscamos um padrão nas redes sociais?


Por Karine Simas

26/05/2022 21h29 — em
Espelho, espelho meu


Foto: Ana Furtado, em uma foto onde comparava o rosto com e sem filtro / Reprodução / Instagram

Hoje a internet ficou em alvoroço após os filtros do Instagram pararem de funcionar. Muitos jovens foram no Twitter reclamar da ausência do recurso, chegando até a promessas de que nunca mais usariam o aplicativo se o mesmo não normalizasse. Mas, até que ponto essa distração é saudável?

Não é preciso muito tempo nas redes para entender o motivo de serem tão atrativas: corpos e rostos perfeitos, as mais belas comidas, ninguém deve um boleto. Seriam as redes sociais o “País das Maravilhas?”

Muito longe disso, as pessoas lá se mostram perfeitas, mas o que os usuários julgam ser ‘fora do padrão’, sofre um cancelamento pesado. Artistas são a todo momento apedrejados, pois às vezes parecem ter apenas dois caminhos: gordos demais ou magros demais.

A busca pela perfeição não chega ao fim, todos os dias você consegue encontrar um filtro de beleza diferente. Alguns sugerem até como você ficaria com a queridinha de muitos, a harmonização facial.

Há uns meses, a apresentadora Ana Furtado publicou em seu instagram sobre a moda dos filtros e fez um desabafo sobre as comparações:  “Um dia desses brincando com filtros aqui, como muitas vezes já brinquei, estranhei meu próprio rosto logo que desliguei. Espera aí. Me comparei com um efeito computadorizado? Nessa altura do campeonato? Como assim??? Essa sem filtro sou eu, sim! Com todas as marcas que contam minha história e fazem parte de quem sou.”

Mas afinal, que aceitação é essa que tanto procuramos? Por que aceitamos críticas de pessoas que muitas vezes nem sequer conhecemos?

 

Tudo tem um começo

A psicóloga Raquel Rodrigues explica o esforço excessivo para pertencer a um ambiente:

 “Durante a gestação e nos primeiros anos de vida, por falta de compreensão a criança interpreta emoções como forte mensagem de rejeição e não aceitação. Ainda que tenha sido o filho muito esperado e recebido muito amor de sua mãe, a rejeição é um trauma de forte impacto emocional. 

Por isso, em algum momento todas as pessoas vão experimentar não se sentir amadas e merecedoras de amor.

A Rotulação se estabelece na infância, quando somos influenciados pelo que as pessoas pensam e dizem sobre nós, sejam elas nossos pais, professores, familiares, amigos ou colegas de escola.”

 

É impossível agradar a todos

Ainda de acordo com a profissional, é a rotulação que acaba com a auto-estima, pois quando julgamos o outro, nada mais é do que uma imperfeição que enxergamos em nós mesmos e que não queremos aceitá-la. Por isso acabamos refletindo no outro o que pensamos sobre nós. O problema é que o outro, também acaba aceitando a rotulação.

Por isso, por mais que tenhamos dificuldade em “assumir” que somos imperfeitos, nós acabamos usando todas as ferramentas disponíveis para mascarar o que pensamos sobre nós. É isso que reflete a “vida perfeita” nas redes sociais, com ostentações e banhos de filtros que melhoram a aparência.

 

O primeiro passo para a aceitação

Raquel explica que precisamos refletir sobre até que ponto o mundo das redes sociais nos faz bem. Caso você perceba que não tem se aceitado ‘sem os filtros’, ela indica um exercício:

"Escreva em um papel o nome de alguém que você se compara ( Seja honesto com você, sempre existe alguém que gostaríamos de ser se pudéssemos escolher) Porque você se compara com essa pessoa? O que ela tem que faz você se comparar com ela?

Agora reflita sobre o que você tem que a pessoa não tem? Liste 10 características.

Você possui essas 10 características, pois só enxergamos o que temos, se aproprie dessas características, e não se deixe levar pelo julgamento do outro."

O que temos a fazer é brincar e nos divertir com as caras e bocas que a tecnologia e as redes sociais proporcionam. Mas liberte-se das amarras da perfeição e se cobre menos, pois assim será mais fácil enxergar a beleza real de viver. Afinal o fim dessa estrada todos nós sabemos.

 

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