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IDH global cresce no pior nível desde 1990, e ONU quer destravar desenvolvimento com IA

Por Folha de São Paulo

06/05/2025 8h15 — em
Economia



SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O crescimento do índice de desenvolvimento humano (IDH) registrou o nível mais baixo desde 1990, quando o então bloco socialista estava em derrocada após a queda do muro de Berlim.

De acordo com novo relatório da ONU (Organização das Nações Unidos), que analisa dados de 2024, a inteligência artificial pode ser a nova mudança estrutural com potencial de retomar o ritmo do avanço da humanidade em termos de saúde, educação e renda.

"Novas capacidades surgem quase diariamente e, embora a IA não seja uma solução mágica, as escolhas que fizermos poderão reacender o desenvolvimento humano e abrir novos caminhos e possibilidades", diz Achim Steiner, chefe global do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento).

Para isso, defende o relatório, a sociedade precisa escapar da armadilha de buscar automatizar todo e qualquer trabalho possível e usar a tecnologia para aumentar a inteligência humana, a exemplo do trabalho laureado do Prêmio Nobel de química de 2024 que usou IA para mapear proteínas.

Caso a sociedade falhe em empregar a tecnologia de maneira eficiente e o baixo avanço registrado entre 2021 e 2024 se repita nos próximos anos, o marco de um desenvolvimento "muito elevado", quando o IDH ultrapassa 0,800, pode acabar atrasado "por décadas", diz a organização.

"Durante décadas, estivemos no caminho para alcançar um mundo de desenvolvimento humano muito elevado até 2030, mas essa desaceleração representa uma ameaça real ao progresso global," afirma Steiner.

O Brasil subiu cinco posições no ranking entre 2022 e 2023, da 89ª para a 84ª posição entre 193 países e territórios. O índice passou de 0,760 para 0,786, considerado alto. Desde 1990, no entanto, a alta do país foi grande: a taxa era de 0,641 naquele ano, uma alta de 22,6%.

"Entre 1990 e 2023, a expectativa de vida ao nascer no Brasil aumentou em 9,99 anos, os anos esperados de escolaridade aumentaram em 1,70 ano e a média de anos de escolaridade aumentou em 4,74 anos. A renda nacional bruta per capita do Brasil aumentou cerca de 47,9% nesse período", afirma o relatório.

Ainda segundo as Nações Unidas, a desigualdade entre os países de IDH baixo (menor do que 0,55) e IDH muito alto (maior do que 0,8) registrou, em 2023, alta pelo quarto ano consecutivo —até 2021, havia uma tendência histórica de redução das disparidades.

Os países menos desenvolvidos sofrem mais do que os desenvolvidos com guerra comercial, piora no nível de endividamento e avanço da industrialização sem geração de emprego.

Para a ONU, a inteligência artificial pode ser uma ferramenta para mudar a situação e impulsionar o desenvolvimento.

A organização se baseia em uma pesquisa de opinião que colheu respostas em 21 países, segundo a qual só 13% dos entrevistados afirmam temer o desemprego por causa da tecnologia. Metade das pessoas ouvidas diz que a IA pode automatizar o próprio emprego e 60% considera que haverá impactos positivos.

Um quinto das pessoas no mundo já afirmam usar IA com alguma frequência.

Nos países de IDH baixo e médio (entre 0,55 e 0,7), o otimismo é maior, com 70% dos respondentes afirmando que esperam ganhos de produtividade com a tecnologia. Dois terços esperam que a IA terá aplicações em educação, saúde e trabalho já em 2026.

Os países, defende a entidade, precisam fechar lacunas de acesso à eletricidade e à internet, para incluir a população nas novas oportunidades que emergem junto à a tecnologia. A disparidade de acesso às ferramentas mais recentes criou, nos últimos anos, uma dívida digital que aprofundou a desigualdade social no mundo.

Segundo o relatório, a tecnologia ainda precisa ser empregada para potencializar as atividades econômicas e sociais que as pessoas já fazem, por meio da introdução precoce de ferramentas e conceitos de IA na educação.

Para garantir um desenvolvimento sustentável da tecnologia, a ONU defende que deve haver participação humana em todo o ciclo de projeto e implementação da inteligência artificial.

A recomendação vai na contramão da atual principal tendência do mercado —os agentes de IA capazes de realizar trabalhos de forma completamente autônoma por meio da interação entre dois ou mais modelos de linguagem.

A organização também pede prioridade à aplicação da tecnologia em educação e saúde a fim de atender demandas urgentes do século 21.


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