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Enquanto uns seguem sem resposta, outros conseguem acordos para evitar cenários piores com a guerra tarifária

Por Folha de São Paulo

28/07/2025 8h30 — em
Economia



SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Entramos na semana do 'dia D'. Enquanto uns seguem sem resposta, outros conseguem acordos para evitar cenários piores com a guerra tarifária de Trump no dia 1º de agosto. Também nesta edição: falamos daquilo que caiu no gosto popular, como a Temu e os "morangos do amor" e outros destaques do mercado nesta segunda-feira (28).

*FEZ O QUE PÔDE E PÔDE POUCO*

Nadou, nadou e morreu… um pouco depois da praia? A União Europeia tentou, mas reduzir a tarifa imposta por Donald Trump às exportações do bloco de 30% para 15% “foi o melhor que conseguiu”, nas palavras da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.

Os americanos e os europeus anunciaram ontem, em pleno domingo, um acordo comercial que impõe tarifas de 15% sobre a maioria dos produtos do bloco, mesma taxa do acordo que o presidente Donald Trump fechou com o Japão na semana passada.

↳ Já havia a expectativa no mercado de que o tratado selado com os japoneses serviria de baliza para outros que seguirão. Saiba mais sobre o que foi acordado.

📜 Os termos. A UE gastará US$ 750 bilhões adicionais em produtos do setor de energia dos EUA, investirá US$ 600 bilhões no país e comprará "uma enorme quantidade" de equipamentos militares americanos, no valor de "centenas de bilhões de dólares", como parte do acordo.

A tarifa básica de 15% deve ser aplicada sobre itens que circulam muito entre o país e o bloco, como produtos farmacêuticos, semicondutores e automóveis.

Trump havia estabelecido uma sobretaxa de 30% sobre a importação de carros para os EUA, o que seria um golpe forte para os europeus. Derrubar essa alíquota pela metade representa algum alívio para o setor.

A presidente da Comissão Europeia afirmou que ainda serão definidas cotas para a exportação de metais.

Zero a zero. Para alguns produtos estratégicos, não haverá sobretaxas na exportação tanto para os americanos, quanto para os europeus.

Entre eles, aeronaves e peças, certos produtos químicos e certos medicamentos genéricos.

🍷 Sem gole. Ainda há indefinição sobre as bebidas alcoólicas, um setor europeu que exporta em abundância e tem os EUA como um dos principais clientes.

Em março, o presidente republicano chegou a falar sobre a definição de uma alíquota de 200% sobre a importação de vinhos da UE —o que ameaçaria a sobrevivência de vinícolas em todo o bloco.

↳ Agora que essa pendência saiu da agenda de Donald Trump, será que a equipe do presidente americano aceitará negociar com Mauro Vieira, chanceler brasileiro que chegou aos Estados Unidos no fim de semana? Veremos.

*ENQUANTO ISSO, NO BRASIL...*

Ainda não houve resposta de Washington às tentativas de negociação das autoridades brasileiras, que buscam reduzir a alíquota de 50% imposta às exportações do país para os EUA.

A sobretaxa pode entrar em vigor na sexta-feira, 1º de agosto, se não houver acordo.

De um lado… o governo Lula afirma que o vice-presidente, Geraldo Alckmin, e outras autoridades tentam, sem sucesso, entrar em contato com os americanos.

Do outro… a Casa Branca avalia que o Brasil não se engajou nem fez propostas significativas para reduzir as tarifas.

🕳️ O buraco é mais embaixo. O principal entrave a uma possível negociação entre Brasília e Washington pode ser o fator político —que teve peso limitado em outros acordos fechados pelos Estados Unidos, mas pode ser determinante no caso brasileiro.

↳ O chanceler Mauro Vieira está em Nova York nesta semana para uma conferência da ONU que discutirá uma solução de dois Estados no conflito Israel-Hamas, mas sem previsão por enquanto de viajar à capital americana.

🔇 Quem cala, consente? Membros do governo brasileiro veem no silêncio dois possíveis indicativos:

O de que os americanos preparam a narrativa para culpar o governo Lula pela imposição das tarifas.

Ou um sinal de que Trump indica querer tratar mesmo de questões não comerciais, mas políticas —o que a gestão brasileira rechaça.

↳ Quando anunciou a taxa sobre o Brasil, o presidente americano atribuiu o encargo a uma suposta perseguição contra o ex-presidente Jair Bolsonaro —em referência ao julgamento que acontece no STF sobre o plano golpista executado em 8 de janeiro de 2023.

Impasse. O governo Lula já rechaçou a medida publicamente algumas vezes, dizendo que a declaração propunha uma interferência na soberania do Judiciário brasileiro.

Ou seja, se o preço para derrubar as tarifas for uma suspensão do julgamento, o Planalto pode optar por não o pagar.

*BECO SEM SAÍDA*

Se há alguns meses a ascensão da Temu era motivo de preocupação para outros grandes varejistas da internet, hoje a situação do e-commerce chinês é menos promissora.

O site, que é lar de uma infinidade de objetos inusitados e baratos, enfrenta dificuldades para se reerguer nos EUA depois que o governo americano impôs barreiras para a entrada de importações chinesas.

🔁 Recapitulando. No início do ano, Donald Trump derrubou a “isenção de minimis”, um mecanismo que permitia que a empresa sediada em Xangai importasse produtos baratos da China sem pagar tarifas de importação.

O negócio da Temu estagnou depois das mudanças nas tarifas, com os usuários ativos mensais de seu aplicativo nos EUA caindo 54% entre março e meados de julho.

Para reduzir os custos de operar em território americano, a varejista cortou as despesas com publicidade, o que pode ter contribuído para a queda na popularidade do aplicativo.

Sem poder importar de forma barata os objetos de pequeno valor, que compunham a maioria das vendas, a administradora PDD Holdings recalculou a rota e deseja competir com Amazon, Walmart, Target e outras varejistas de grande porte.

Mas… A Temu foi informada por empresas e vendedores dos EUA que não pode oferecer preços mais baixos em produtos de marca do que os oferecidos na Amazon, segundo duas fontes relataram ao Financial Times.

A ideia das varejistas americanas é que, para sobreviver no país, a chinesa terá que oferecer um portfólio totalmente diferente do que elas oferecem —isto é, ela não poderá participar da concorrência no mercado americano.

Porém, as vendas que a distinguiam do restante do setor foram praticamente inviabilizadas pelo fim da isenção de minimis.

Com isso, a Temu está naquilo que seus avós gostavam de chamar de “sinuca de bico”.

*AMOR, I LOVE YOU*

Há muitas formas de dizer “eu te amo” para alguém… uma delas é comprar um morango coberto em brigadeiro e caramelo vermelho que custa R$ 25.

O “morango do amor”, que é como a tradicional maç㠗a fruta coberta por uma camada de caramelo vermelho brilhante—, virou assunto prioritário nas redes sociais nos últimos dias. As confeitarias e padarias do Brasil não perderam tempo e começaram a oferecer a iguaria nas vitrines.

💰 “É uma loucura, parece Páscoa”... é o depoimento de Neliane Carvalho dos Santos Santiago, 34, dona da Neli Doces, na zona oeste da capital paulista, uma das confeitarias que começou a vender a guloseima.

Neliane começou a fazer o tal morango depois de ouvir um amigo dizer que o doce viralizou na internet. No início do mês, fazia cerca de 20 unidades por dia. Hoje, faz de 130 a 150 morangos do amor diariamente.

Outra empreendedora do ramo, Regiane Canuto iniciou a produção no dia 19 de julho e, em cinco dias, vendeu mais de mil unidades. Os preços começaram em R$ 16,99, mas já chegam a R$ 20. O faturamento até agora foi de aproximadamente R$ 20 mil só com os morangos.

Sumiu das prateleiras. A febre do morango do amor já atingiu os preços da fruta, que vem registrando alta desde o ano passado.

Comerciantes da Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo) observam que a caixa de morangos, que costuma custar R$ 20 nessa época do ano, já está R$ 50.

Em junho, o valor do morango aumentou 8,2%, segundo o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo). No acumulado do ano, a alta chega a 39,89%.

Baixa temporada. A febre veio em um momento pouco propício para conseguir as frutinhas por um bom preço. O aumento dos valores é sazonal, isto é, acontece (quase) sempre na mesma época anualmente.

É comum que o preço da bandeja aumente no primeiro semestre, uma vez que o pico da colheita acontece em agosto e setembro, principalmente no Sudeste, segundo Luiz Eduardo Antunes, pesquisador da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária).

*O QUE MAIS VOCÊ PRECISA SABER*

🚪Toc-toc-toc. É o chanceler brasileiro, Mauro Vieira, que chegou aos EUA —mas não há sinal de que a gestão Trump o receberá para negociações.

☝️ “Nem a União Soviética faria”... é o que Celso Amorim pensa sobre a tarifação dos americanos sobre o Brasil. Ele expressou a opinião em entrevista ao Financial Times.

🛫 Comanda cheia. Bangladesh encomendou 25 aviões da Boeing em meio a preocupações sobre a guerra comercial.

🇦🇷 Jogando para baixo. O presidente da Argentina, Javier Milei, anunciou a redução das taxas de exportação de carnes e grãos. A ideia é estimular a venda das commodities.


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O Portal do Holanda foi fundado em 14 de novembro de 2005. Primeiramente com uma coluna, que levou o nome de seu fundador, o jornalista Raimundo de Holanda. Depois passou para Blog do Holanda e por último Portal do Holanda. Foi um dos primeiros sítios de internet no Estado do Amazonas. É auditado pelo IVC e ComScore.

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