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Tráfico narcotizou os rios do Amazonas. E a violência não para


Por Raimundo de Holanda

21/11/2021 19h04 — em
Bastidores da Política



Havia um sonho compartilhado pelos garotos de minha geração. Fazer dos rios do Amazonas uma estrada, encontrar o Sol Nascente além do horizonte numa manhã fria, úmida  e silenciosa. Quem sabe nos braços da mulher amada, em um ninho espancado pelas ondas…

Não tínhamos medo, tínhamos sonhos, compartilhávamos ideais. Quando alguém falava em piratas vinha à memória o livro de  James Barrie,  que líamos divertidamente porque um dos principais personagens, o Capitão Gancho, líder dos piratas, sempre acabava na boca de um jacaré ou derrotado por Peter Pan.

O tempo passou e os piratas da vida real apareceram espalhando a morte. Os rios viraram estradas do tráfico e o crime passou a contaminar cada furo, cada lago,  cada enseada.  Os rios foram narcotizados.

O “incidente”  deste domingo, envolvendo um barco patrulha da Marinha do Brasil e uma balsa da empresa Waldemiro Lustoza, no qual um oficial foi morto numa inesperada reação da tripulação da balsa, foge ao argumento de que os balseiros confundiram o barco patrulha. Difícil  porque é fácil identificar uma embarcação da Marinha a longa  distância. No processo de aproximação, então, são feitos avisos intermitentes no sentido de que o alvo deve parar, o que torna ainda mais evasivo o argumento da transportadora

A reação pode ter múltiplos significados e a polícia está apurando.

Mas o fato em si  revela que a violência não está concentrada apenas na cidade de Manaus, apesar do seu grau explosivo. Encontra-se tambem nos rios e muito provavelmente no ar, numa poderosa simbiose que torna o tráfico não um fenômeno, mas uma poderosa corporação instalada em claro desafio ao Estado.

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Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.