Compartilhe este texto

Criminosos em Manaus não se contentam em matar. Eles desossam os corpos das vítimas


Por Raimundo de Holanda

23/08/2021 20h53 — em
Bastidores da Política



Ao argumentar que as mortes que vêm ocorrendo em Manaus são consequência de uma guerra de facções, o poder público está afirmando que não é o responsável nem pelo crime, nem pela violência, nem pelos impactos que isso gera na sociedade. Assume o papel, criminoso, da omissão diante de um problema social gravíssimo.

Em meio ao lixo e a água turva do igarapé do Mestre Chico, transformado em esgoto, a mão cortada de um homem se misturava ao lixo. Mais adiante, uma perna presa num redemoinho de fezes humanas chama a atenção das crianças que brincam no local. Uma cena de horror, que se completa com a visão inesperada de uma cabeça que rolava com a água em direção ao grande rio.

Nos becos escuros de muitas “bocas” em Manaus,  ruídos de bala disparadas tiram o sono dos moradores. No amanhecer, corpos aparecem em sacos plásticos, fatiados como porcos, enquanto o sangue ainda fresco  se espalha pela calçada.

Não é uma guerra de facção, como diz a polícia. É a barbárie no sentido mais perverso, levando medo, desespero e morte a moradores pobres de favelas onde o poder público não chega, por conivência com o crime ou incompetência.

E mesmo que fosse uma guerra de facções, ao admitir isso o poder público está afirmando que não é o responsável nem pelo crime, nem pela violência, nem pelos impactos que ela gera na sociedade.

E o crime se espalha por todo o tecido social. Uma mulher de 20 anos leva tiros dentro de um Uber e morre dois dias depois. Um assalto? Não. Um pistoleiro a serviço não se sabe de quem.

Uma sugestão para esquecer um pouco da violência e dos riscos que todos corremos:  Vamos jogar uma pelada em uma quadra do CDC ou  CSU da  Compensa? Ah, precisa de autorização ? De quem ?

Siga-nos no


Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.