Bolsonaro, STF e o racha na sociedade brasileira
- Criticas à Corte Suprema fazem parte de qualquer democracia. Proibi-las, ainda que eivadas de ameaças não consumadas, é um ato de puro autoritarismo
Há uma confusa luta pela democracia no Brasil, travada por atores que parece não compreendê-la. Seriam democratas os que pregam um governo militar, com supressão de direitos? A ideia em si deveria ser tolerada em um espaço democrático. Ações no sentido de minar esse espaço de direitos estabelecidos, não.
Criticas à Corte Suprema fazem parte de qualquer democracia. Proibi-las, ainda que eivadas de ameaças não consumadas, é um ato de puro autoritarismo.
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Bolsonaro de um lado e com ele parte substantiva do parlamento e as mídias sociais - forma a força que se contrapõe ao Supremo e a imprensa tradicional. O que ambos querem - e isso é muito confuso - é, na linguagem deles e ao seu modo, a democracia.
Ao dizer que age “dentro das quatro linhas da Constituição”, Bolsonaro está dizendo que respeita a Lei Maior do país e, portanto, é um democrata.
Ao criar inquéritos contra atos supostamente antidemocráticos, mandar prender e eventualmente julgar os que saem dessas “quatro linhas da Constituição”, o ministro Alexandre de Moraes está dizendo, em nome do STF, que defende a democracia.
O que nenhum dos lados percebe é que estão minando a democracia - o primeiro porque não se submete a nenhuma norma e se insurge contra o voto eletrônico e as eleições. O segundo, porque está invertendo seu papel, que é o de resolver conflitos e não ser protagonista desses conflitos.
O que resultará desse embate imprevidente é a morte da democracia, independentemente do lado vencedor. É possível que dessa batalha de celerados resulte um País mais podre, desorganizado, dividido, falido institucionalmente e tendo como vítima o que aprendemos, ao longo da história, como sendo o melhor sistema de governo.
Falta um poder moderador para salvar o que resta da democracia, o que não existe. E o risco de um racha geral na sociedade brasileira é cada dia mais provável, com consequências previsíveis...
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.