Carcass costura vários tipos de música pesada em show de altíssima voltagem
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Cerveja pelos ares, casaco voando e fãs sendo carregados ao alto pela plateia. Essas imagens dão uma ideia do clima do show do Carcass, nesta quinta (15), no Carioca Club, em São Paulo. Foi a segunda vez que a banda britânica de metal extremo tocou no Brasil em pouco mais de um ano, mas agora a animação era bem maior, porque o público estava na casa de shows exclusivamente para ver o grupo.
No ano passado, o quarteto se apresentou para um público dezenas de vezes maior no festival Summer Breeze, mas a própria natureza do evento indica que muita gente estava lá para curtir outras bandas, de modo que a energia intensa de um clube, quando há o casamento da banda e da plateia pelo tempo de duração do show, não pode ser replicada com a mesma euforia num festival.
Ao vivo, os discos do Carcass fazem mais sentido o exímio técnico característico da banda, que alguns fãs acham enfadonho de ouvir nos fones, ganha dinamismo quando executado no palco.
Já na primeira música do show, "Unfit for Human Consumption", a banda mostrou seu amplo repertório estético, numa faixa que passeia por vários tipos de música pesada: começa "thrash metal", vira "death" e depois passa pelo hardcore, com direito a um solo de guitarra no meio do caminho.
É fácil compreender, portanto, como a maestria na costura de diferentes gêneros musicais em porradas de alguns minutos tornou o Carcass uma das bandas mais importantes da história do metal, capaz de agradar tanto aos "headbangers" tradicionais em busca de peso quanto os punks e skatistas que curtem canções velozes, cheias de adrenalina. Eram esses, a propósito, os dois públicos do show.
Em cerca de uma hora e 20 minutos de apresentação, o vocalista Jeff Walker interagiu pouco com a plateia e a banda praticamente emendava uma música na outra, sem deixar o medidor de decibéis abaixar muito de 100, o mesmo nível de barulho de uma motosserra o volume máximo, afinal, era o que todos queriam.
Quando Walker se dirigia aos fãs, era para pedir para as pessoas levantarem os braços e gritarem "hey!" nas músicas com guitarras melódicas, como foi o caso de "Buried Dreams", faixa de abertura do disco "Heartwork", de 1993, o principal do grupo. Palminhas num show de metal extremo podem parecer um contrassenso, mas neste funcionavam muito bem.
A casa de shows do bairro de Pinheiros, com capacidade para 1.200 pessoas, estava cheia mas não lotada, o que de forma alguma influenciou na energia do show, dado que as rodas de pogo ficavam maiores a cada música. Era como se os fãs tivessem sido postos dentro de um liquidificador ligado na potência máxima pela banda e saíssem de lá moídos e felizes.

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