Atualmente, o assassino de Ângela Diniz seria influenciador, diz Emilio Dantas sobre Doca Street
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Quase meio século depois do assassinato de Ângela Diniz, a história volta à tela em "Ângela Diniz: Assassinada e Condenada", nova série da HBO Max dirigida por Andrucha Waddington. Inspirada no podcast Praia dos Ossos, a produção reconta o crime que mobilizou o Brasil e impulsionou a luta feminista contra a chamada "defesa da honra". Mas, segundo o elenco, a história continua mais viva e atual do que nunca.
No centro da trama estão Marjorie Estiano, que interpreta Ângela, e Emilio Dantas, no papel de Doca Street, o homem que a matou com quatro tiros à queima-roupa em 1976. Durante a entrevista coletiva, Dantas foi direto ao descrever o personagem: "Um grande idiota, canalha, preconceituoso", disse o ator, antes de refletir sobre como esse tipo de figura ainda encontra espaço hoje.
"Muitas vezes a gente vê algo que aconteceu no passado e percebe que continua igual. Talvez meu personagem hoje fosse famoso, tivesse uma equipe gigante de marketing e estaria no Congresso. E a Ângela, cancelada na internet. Nos dias de hoje, o assassino dela seria influenciador", afirmou.
Para Dantas, o desconforto é parte essencial da série. "Quero que as pessoas terminem a história com o mesmo sentimento que eu tive ao gravar: de raiva, do passado e do presente. De perceber que ainda cometemos os mesmos julgamentos de antes."
Marjorie Estiano, por sua vez, mergulhou fundo na liberdade e nas contradições da personagem. "Quanto mais eu estudava a Ângela, mais eu enxergava o preconceito que a sociedade tinha e ainda tem com mulheres livres", afirmou.
A atriz conta que o papel a fez repensar sua própria relação com o prazer e a autonomia. "Mulheres precisam parar de sentir culpa por ter prazer. A Ângela se permitia viver isso, e esse é um ensinamento muito importante. Para mim, sempre foi tudo muito sobre trabalho, disciplina. Foi uma chance de experimentar a liberdade. É uma conquista poder se questionar sobre isso."
Segundo Marjorie, o comportamento de Ângela foi um ato revolucionário. "O fato de ela ser tão livre é algo inédito. Não só para os papéis que já fiz, mas para as mulheres retratadas no cinema e na TV. Mulheres sempre foram criadas para sofrer ou para dar prazer a alguém. A Ângela veio para quebrar tudo isso."
O diretor Andrucha Waddington destaca que o cuidado da equipe foi justamente o de não transformar o crime em espetáculo. "A gente não quis transformar a tragédia em piada ou produto de consumo. A série é sobre a assassinada, não sobre o assassino. Se fosse nossa intenção explorar o escândalo, teríamos dado mais espaço ao Doca Street e não fizemos isso."
Produzida pela Conspiração, "Ângela Diniz: Assassinada e Condenada" chega à HBO Max em 13 de novembro. Além de Marjorie e Emilio, o elenco conta com Antônio Fagundes (como o advogado e ex-ministro do STF Evandro Lins e Silva), Thiago Lacerda (Ibrahim Sued) e Camila Márdila (Lulu Prado).
Para Waddington, a força da história está justamente na urgência de revisitar o passado. "A Ângela foi julgada por ser livre. E quando a gente percebe que ainda existe esse julgamento, é sinal de que a ferida continua aberta."
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