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Arnaldo Branco e Renato Terra retomam o legado de Barão de Itararé na Flip

Por Folha de São Paulo

01/08/2025 17h45 — em
Arte e Cultura



PARATY, RJ (FOLHAPRESS) - Espancado e preso pela polícia política de Getúlio Vargas, Barão de Itararé reagiu pendurando uma placa na porta -entre sem bater.

A vida do jornalista gaúcho Apparício Torelly (1895-1971), que num chiste se autointitulou Barão de Itararé, é relembrada no documentário "O Brasil que Não Houve: As Aventuras do Barão de Itararé no Reino de Getúlio Vargas", com estreia marcada para esta sexta (1º), no Cinema da Praça, durante a Flip, a Festa Literária Internacional de Paraty.

A obra tem Gregorio Duvivier como narrador e direção de Renato Terra e Arnaldo Branco. A dupla dividiu também uma mesa na Casa Folha mediada pelo repórter Maurício Meireles.

O Barão de Itararé foi figura central na história do humor nos jornais. Dele vieram frases que ecoam até hoje, ainda que nem sempre se saiba a autoria delas. Joias como "de onde menos se espera, daí é que não sai nada", ou "os homens nascem iguais, mas no dia seguinte já são diferentes".

Terra vê muitos projetos humorísticos contemporâneos bebendo no pioneirismo de Itararé, do Sensacionalista ao Greg News. "Espero que o filme ajude as pessoas a lembrar dele. Apagaram o DNA no caminho."

"Antes de ser moda criticar piada, ele já era meio que um hipster", continua Terra. "Ele respondia com humor tudo que aparecia no noticiário."

Tanto Terra quanto Branco não são apreciadores do trabalho de Léo Lins, o comediante condenado a prisão por piadas preconceituosas com minorias. Mas admitem não ter uma resposta pronta para como lidar com casos como o dele.

"Ele é limitado", diz Branco, que é cartunista. "Então, tipo assim, ele é ruim. Mas oito anos de prisão?" O sujeito que tentou explodir uma bomba no aeroporto de Brasília, indignado com a vitória de Lula (PT), ganhou pena não muito mais alta que Lins, por exemplo.

E o comediante, por sinal, saiu ganhando com a decisão judicial, diz Branco, já que a procura por seu stand-up aumentou bastante.

Terra concorda que a pena de oito anos parece exagerada -ela ainda não começou, pois cabe recurso, e Lins responde em liberdade. Mas se reconhece perdido, sem saber o que fazer com humores que, com frequência, ferem grupos vulneráveis -e pior, nem teriam graça. "Ignorar não funciona, você jogar luz [sobre o episódio] não funciona, chamar a pessoa para conversar não funciona."

O que funciona então? "Eu não tenho essa resposta. Acho que ainda estamos num momento que a gente precisa expandir um pouco a conversa para poder ter essa resposta."

Terra lembrou do tempo em que escrevia o "Diário da Dilma" na revista Piauí, uma sátira que simulava registros da então presidente Dilma Rousseff (PT). A leitura agradava direita e esquerda por motivos distintos -ou melhor, por leituras enviesadas do mesmo conteúdo.

"A direita achava que a gente estava tirando sarro da Dilma. A esquerda, que a gente estava humanizando ela."

A internet encurtou o tempo entre a piada e a reação, diz Branco. E isso, para o bem e para o mal, mudou tudo. "Antes, se alguém se ofendesse com o 'Casseta & Planeta', tinha que mandar carta." Imagina o trabalhão. Hoje basta despejar "hate" nas redes sociais.


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