Motorista atropela multidão na Alemanha e deixa 30 feridos
MUNIQUE, ALEMANHA (FOLHAPRESS) - Um homem atropelou uma multidão em uma rua movimentada de Munique na manhã desta quinta-feira (13), ferindo 30 pessoas em um provável ataque terrorista, disseram autoridades locais da cidade do sul da Alemanha. Dois dos atingidos estão em estado grave.
Após o incidente, cujas causas ainda não estão esclarecidas, uma operação em larga escala foi lançada no local, perto da estação central. A polícia prendeu o motorista e o identificou como um afegão de 24 anos o nome não foi divulgado. "Provavelmente foi um ataque", disse a jornalistas o governador do estado da Baviera, Markus Söder, horas após o atropelamento. Outras autoridades falam em motivação terrorista.
Inicialmente, as autoridades haviam informado que o homem tivera sua solicitação de asilo negada e que havia uma ordem contra ele para que deixasse o país. Disseram ainda que ele teria sido fichado por porte de drogas e furto. Entretanto, o ministro do Interior da Baviera, Joachim Herrmann, desmentiu mais tarde as informações: na verdade, o afegão não tinha antecedentes criminais e estava no país legalmente.
Segundo a polícia, por volta das 10h30 locais (6h30 no Brasil), o suspeito, a bordo de um Mini Cooper, se aproximou de uma marcha de manifestantes convocada pelo sindicato de servidores Verdi antes de ultrapassar a viatura que protegia a manifestação e avançar em direção às pessoas, causando pânico.
O prefeito de Munique, Dieter Reiter, afirmou que há crianças entre as vítimas. "Estou profundamente chocado", disse ele, segundo a revista Spiegel. "Meus pensamentos estão com os feridos."
O primeiro-ministro alemão, Olaf Scholz, por sua vez, disse que o suspeito não pode esperar por indulgência. "Ele deve ser punido e deve deixar o país", disse Scholz, de acordo com a revista Focus. "Se foi um ataque, devemos tomar medidas consistentes contra possíveis criminosos com todos os meios da Justiça."
De acordo com a Spiegel, o suspeito nasceu em Cabul, capital do Afeganistão, em 2001, e foi para a Alemanha em 2016. A revista afirma ainda que ele teria divulgado mensagens islâmicas antes de agir.
A Folha conversou com uma funcionária de uma loja de equipamentos ortopédicos que fica a poucos metros do local do incidente. Segundo ela, no momento do atropelamento ela realizava um atendimento quando ouviu gritos da rua e uma multidão correndo. Algumas pessoas entraram no estabelecimento em busca de abrigo.
O episódio ocorreu na confluência da Dachauer Strasse com a Seidl Strasse, duas ruas importantes da cidade. O local fica a cerca de 1,3 km do hotel que recebe a Conferência de Segurança de Munique a partir desta sexta (14). O vice-presidente dos Estados Unidos, J. D. Vance, e o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, devem chegar ao país ainda nesta quinta para o evento.
O ponto em que ocorreu o incidente foi isolado pela polícia, que permitia a aproximação apenas de jornalistas para registrar imagens. Ao lado do Mini Cooper, que estava com vidro e faróis estilhaçados, havia pertences das pessoas que estavam na manifestação espalhados pela rua, como coletes de sinalização, guarda-chuvas e um carrinho de criança.
A conferência de Munique é um dos mais importantes eventos de segurança e diplomacia do mundo, e a área em que ela ocorre já estava fortemente vigiada na manhã desta quinta, antes do atropelamento.
Apesar da proximidade do local do ataque com o hotel onde acontece a Conferência de Segurança, o ministro do Interior da Baviera disse não suspeitar que a conferência tenha sido o motivo do possível ataque. De qualquer forma, o suposto atentado coloca a segurança do país novamente no centro do debate a menos de duas semanas das eleições gerais, que escolherão o novo premiê, no próximo dia 23.
Que o ataque tenha ocorrido não apenas em um momento em que a cidade já está em alerta máximo mas também no reduto político do partido CSU, sigla-irmã da CDU do favorito Friedrich Merz, complica a estratégia eleitoral desse grupo de centro-direita de se vender como os únicos do campo democrático capazes de utilizar toda a força do aparato de segurança contra imigrantes.
Com efeito, o partido de extrema direita AfD (Alternativa para a Alemanha) pediu a renúncia de Söder, governador da Baviera, nome forte da CSU e uma das principais vozes do partido que pedem um endurecimento da política migratória. A AfD, que está em segundo lugar nas pesquisas, tenta explorar a série de ataques recentes na Alemanha para conseguir sucesso eleitoral.
O tema ganhou novos contornos no final de janeiro, quando um afegão de 28 anos usou uma faca de cozinha para atacar pessoas em um parque público, incluindo um grupo de crianças, em Aschaffenburg, na Baviera. Um menino de dois anos e um homem de 41 não resistiram aos ataques, e outras três pessoas ficaram feridas.
O episódio se soma a outros da mesma natureza na Alemanha nos últimos anos. Em dezembro do ano passado, por exemplo, um médico natural da Arábia Saudita invadiu com o carro um mercado de Natal em Magdeburgo, localizada a cerca de 130 km de Berlim, matando ao menos cinco pessoas e ferindo dezenas.
Antes disso, em agosto, um refugiado sírio esfaqueou diversas pessoas durante o festival de 650 anos da cidade de Solingen, no estado da Renânia do Norte-Vestfália, no oeste da Alemanha. Três pessoas foram mortas e oito ficaram feridas.
Assim, a campanha eleitoral vem sendo marcada pela forte polarização sobre questões migratórias que pressionam Scholz, o social-democrata que, em dezembro, pediu um voto de confiança como uma estratégia para antecipar as eleições no país europeu após ver sua coalizão colapsar.

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