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Israel libera entrada de mais ajuda humanitária, mas ONU aponta bloqueio em distribuição

Por Folha de São Paulo

20/05/2025 18h30 — em
Mundo



SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Israel anunciou nesta terça-feira (20) a entrada na Faixa de Gaza de 93 caminhões que transportavam ajuda à população após vários meses de bloqueio. Mas a catástrofe humanitária no território palestino persiste. De acordo com a ONU, nenhum mantimento havia sido distribuído.

"Hoje, uma de nossas equipes esperou várias horas pela luz verde israelense para acessar a área de Kerem Shalom [no sul de Gaza] e coletar os suprimentos nutricionais. Infelizmente, eles não conseguiram levar esses mantimentos para nosso armazém", disse Stephane Dujarric, porta-voz da ONU.

Mais cedo, Jens Laerke, porta-voz do escritório humanitário da ONU, afirmou que os veículos levavam alimentos para bebês e produtos nutricionais para crianças, um dos grupos mais vulneráveis em situações de escassez alimentar. O secretário-geral-adjunto da agência, Tom Fletcher, afirmou à BBC News nesta terça que 14 mil bebês podem morrer em Gaza se a ajuda não chegar nas próximas 48 horas.

Ele classificou a entrada de cinco caminhões, na segunda (19), de uma "gota no oceano" diante das necessidades e afirmou que haverá muitos obstáculos para concretizar a distribuição da ajuda. "Será difícil, mas vamos levar esses carregamentos com comida para bebês. Nosso pessoal correrá esse risco", afirmou à rede britânica. "Quero salvar o máximo possível desses 14 mil bebês."

As taxas de desnutrição em Gaza aumentaram durante o bloqueio —segundo projeção da Classificação Integrada da Fase de Segurança Alimentar (IPC), iniciativa apoiada pela ONU, 100% da população no território está em risco de crise alimentar.

A aprovação da entrada limitada de ajuda ocorreu após intensa pressão sobre Tel Aviv, que não cessou os ataques, no entanto —somente nesta terça, bombardeios no território mataram ao menos 85 pessoas, segundo autoridades de saúde citadas pela agência de notícias Associated Press.

Embora urgente, a quantidade aprovada é insuficiente diante da escassez que Gaza enfrenta. Antes da guerra, 500 caminhões entravam no território por dia, o que nunca voltou a ocorrer de forma sustentada desde o início do conflito.

A situação chegou a um ponto crítico nos últimos dois meses, quando Israel paralisou totalmente a entrada de ajuda. Na segunda-feira (19), após 78 dias de bloqueio, cinco caminhões entraram em Gaza sob a justificativa de que as cenas de fome entre os palestinos estavam drenando o apoio internacional de Israel, segundo o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu.

Ao anunciar o desbloqueio, Netanyahu mencionou um plano rechaçado pela ONU de criar centros para distribuir a ajuda. De acordo com a imprensa local, um funcionário israelense de alto escalão afirma que a operação para criar essas estruturas dentro de Gaza deve ser concluído em uma semana —prazo visto como irreal pelo chef José Andrés, diretor da WCK (World Central Kitchen), organização humanitária que atua no território palestino.

"Isso não é verdade. Vai levar semanas. Este plano deixará os palestinos com fome", afirmou ele na rede social X. "Já temos um sistema em vigor para alimentar todos os palestinos com a ajuda dos próprios palestinos, criando empregos e sistemas no processo."

Alimentos não são a única necessidade de Gaza. Segundo relatório do escritório humanitário da ONU, 90% das casas tiveram insegurança hídrica na primeira quinzena de abril, e os centros de saúde que não foram bombardeados enfrentam falta de suprimentos básicos.

A situação dos hospitais impede o atendimento adequado de pessoas feridas por ataques, que continuam ocorrendo após parte dos moradores voltarem para suas casas no cessar-fogo de janeiro.

Os bombardeios desta terça foram feitos em Khan Yunis e em áreas ao norte, incluindo Deir al-Balah, Nuseirat, Jabalia e Cidade de Gaza, disseram autoridades locais. Um dos ataques matou mulheres e crianças que estavam em uma casa; outro atingiu uma escola que abrigava famílias deslocadas, de acordo com médicos do território.

Ainda segundo dados de Gaza, ataques israelenses mataram mais de 500 pessoas nos últimos oito dias, o que fez o número de mortos desde o início do conflito no território passar de 53 mil.

As cenas de destruição e fome em Gaza têm tensionado as relações de Israel com grande parte da comunidade internacional —incluindo seu aliado mais próximo, os Estados Unidos. Nesta segunda, líderes de Reino Unido, França e Canadá advertiram que poderiam tomar "ações concretas" se Israel não interrompesse as operações militares em Gaza e suspendesse as restrições à ajuda.

Em uma declaração separada ao lado da União Europeia e de outros 20 países, os três países alertaram que a população de Gaza estava enfrentando fome e que a ONU e grupos de ajuda deveriam ser autorizados a realizar seu trabalho de forma independente.

Nesta terça, o Reino Unido suspendeu as negociações de livre comércio com Israel, convocou a embaixadora de Tel Aviv em Londres e anunciou novas sanções contra colonos da Cisjordânia.

"A história os julgará. Bloqueando a ajuda. Expandindo a guerra. Ignorando as preocupações de seus amigos e parceiros. Isso é indefensável. E precisa parar", afirmou o ministro das Relações Exteriores britânico, David Lammy, a parlamentares. "Francamente, é uma afronta aos valores do povo britânico. Portanto, hoje, estou anunciando que suspendemos as negociações com este governo israelense sobre um novo acordo de livre comércio."

"Quero registrar hoje que estamos horrorizados com a escalada por parte de Israel", havia afirmado o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, ao Parlamento mais cedo. "Repetimos nossa exigência por um cessar-fogo como única forma de libertar os reféns, repetimos nossa oposição aos assentamentos na Cisjordânia e repetimos nossa exigência de aumentar massivamente a assistência humanitária para Gaza."

Tel Aviv minimizou a medida. "A pressão externa não desviará Israel de seu caminho na defesa de sua existência e segurança contra inimigos que buscam sua destruição", disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores de Israel, Oren Marmorstein, após o anúncio do Reino Unido.


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