Holandês conservador candidato a papa é médico e une a ciência à religião
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O impacto da fé na saúde é objeto de estudos em todo o mundo e, no Brasil, o Conselho Federal de Medicina criou uma comissão para investigar o tema. Para o cardeal holandês Willem Eijk, entretanto, não restam dúvidas: religião e ciência são assuntos conectados. Arcebispo de Utrecht, ele chegou a atuar como médico e, numa reviravolta pessoal, atualmente é um dos favoritos para ser o novo papa.
O cardeal de 71 anos terminou a licenciatura em medicina na Universidade Amsterdã em 1978 e exerceu a profissão em uma clínica. Anos depois, em 1985, foi ordenado padre. Ele afirma que a sua verdadeira vocação é a carreira eclesiástica.
No início, Eijk conciliava as duas áreas. Especializou-se em ética médica e concluiu o doutorado na Universidade Leiden com uma tese sobre as práticas de eutanásia em seu país. À época, também servia à Igreja Católica atuando como capelão, uma autoridade religiosa que presta assistência espiritual em diversos contextos, incluindo hospitais, presídios, escolas e instituições militares.
Eijk deixou de exercer a medicina, mas nunca se afastou totalmente da profissão. Em sua trajetória, o religioso foi cofundador de uma associação sobre ética médica e editou um manual sobre o tema.
Já bispo, Eijk teve de lidar com a secularização na sociedade holandesa, processo caracterizado pela diminuição da influência da religião. O trabalho teria sido tão estressante que possivelmente impactou a sua saúde, de acordo com o site The College of Cardinals Report, criado pelo vaticanista Edward Pentin. Em 2001, ele teve um hematoma subdural, acúmulo de sangue que se forma entre o cérebro e o crânio, mas se recuperou e retomou suas atividades.
Foi escolhido arcebispo da cidade holandesa de Utrecht em 2007 pelo papa Bento 16, a quem se alinha ideologicamente. Cinco anos depois, o mesmo pontífice o nomeou cardeal, e Eijk pôde participar do conclave em 2013 que escolheu Francisco o líder da Igreja Católica.
Atualmente Eijk é um nome estimado entre os conservadores por suas posições descritas como pró-vida, manifestando-se de forma contrária, por exemplo, à eutanásia prática que, em linha com a doutrina da Igreja Católica, ele descreve como um pecado.. Em 2020, ele criticou a decisão da Suprema Corte de seu país que autorizou o procedimento para pessoas que têm demência avançada. O argumento foi que haveria dúvidas sobre consentimento.
Mais de uma vez o cardeal se posicionou contra a diversidade sexual e de gênero, descrevendo-a como uma inimiga do casamento tradicional e da família, o que prejudicaria os ensinamentos feitos pela igreja. Segundo Eijk, o debate é contaminado de forma ideológica por um "feminismo radical", que colocaria o mundo contra a fé cristã. Ele tem cobrado da instituição pulso firme nessa frente.
"Está se espalhando mais e mais em todas as partes do mundo ocidental e temos de advertir as pessoas. Um documento exclusivamente sobre este problema seria uma questão urgente", disse ele à agência Catholic News Service. "Do ponto de vista da teologia moral está claro: você não pode mudar de sexo."
O holandês também é contra a bênção a casais do mesmo sexo e à comunhão para divorciados e casados pela segunda vez. Embora seja criticado pelos mais progressistas, o cardeal tem pontos em comuns com Francisco. Ele é defensor dos direitos dos refugiados, especialmente os cristãos que fogem de seus países devido à intolerância religiosa. Mas afirma que os migrantes têm de cumprir obrigações em seus novos países.
Durante a pandemia de Covid- 19, foi defensor ferrenho da vacinação, baseando-se em seu conhecimento médico. Apesar das preocupações com a segurança e eficácia das vacinas, ele considerou o ato como uma "obrigação moral" para proteger a si mesmo e aos outros do vírus.
Além do holandês, Willem Eijk é fluente em italiano e inglês. Sua escolha a papa representaria um aceno à ciência diante de um mundo cada vez mais tecnológico e no qual a igreja vê diminuir a proporção de católicos.
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