Morreu neste sábado (12), aos 88 anos, Jean-Claude Bernardet — um dos nomes mais influentes da crítica do cinema brasileiro. A informação foi confirmada pelo cineasta Eugênio Puppo, parceiro de Bernardet em diversos projetos.

Segundo amigos próximos, Bernardet sofreu um AVC e estava internado no Hospital Samaritano, em São Paulo. A causa oficial da morte não foi divulgada, mas o intelectual enfrentava um quadro de saúde fragilizado, convivendo com um câncer de próstata reincidente, que optou por não tratar com quimioterapia, e complicações decorrentes de uma degeneração ocular. Bernardet também era soropositivo.

O velório acontecerá neste domingo (13), entre 13h e 17h, na Cinemateca Brasileira, em São Paulo. 

Jean-Claude nasceu na Bélgica em 1936 e chegou ao Brasil aos 13 anos, naturalizando-se brasileiro em 1964. Sua ligação com o cinema começou cedo, com passagens pela Cinemateca Brasileira e pelo cineclube do Centro Dom Vital, nos anos 1950. Lá, iniciou suas primeiras críticas cinematográficas, focando inicialmente em autores como Fellini, antes de se voltar de forma mais decisiva ao cinema nacional.

Sua obra influenciou gerações de realizadores e estudiosos. Em 1967, Bernardet atuou como professor na Universidade de Brasília, onde foi um dos fundadores do curso de cinema, e também lecionou na USP, de onde foi afastado compulsoriamente durante a ditadura militar. Retornaria à universidade em 1980, após a anistia política. Nesse mesmo ano, lançou o seminal "Brasil em tempo de cinema", livro que ofereceu uma leitura inovadora sobre o Cinema Novo.

Autor de 25 livros, Bernardet transitou entre crítica, historiografia e ficção. Entre seus títulos mais marcantes estão "Cineastas e imagens do povo" (1985), voltado ao documentário brasileiro, "Historiografia clássica do cinema brasileiro" (1995) e "A doença, uma experiência" (1996), no qual relata sua vivência com o HIV. Ele também explorou o cinema de autores como Bressane, Sganzerla e Kiarostami.

Ao longo da carreira, Bernardet também atuou como roteirista, diretor e, mais recentemente, ator. Na atuação, se destacou em “Antes do Fim” (2017), de Cristiano Burlan, ao lado da atriz Helena Ignez, interpretando a si mesmo. Foi nessa fase final da vida que passou a se dedicar mais intensamente ao trabalho como ator, deixando em segundo plano a crítica cinematográfica.

Em 2024, sua obra ganhou uma retrospectiva inédita nos Centros Culturais Banco do Brasil (CCBB) de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, celebrando sua contribuição ao cinema nacional como intelectual multifacetado.