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Sobre o desaparecimento de Dom Phillips e Bruno no Vale do Javari


Por Raimundo de Holanda

07/06/2022 19h35 — em
Bastidores da Política



Sejam quais forem os motivos que levaram o jornalista inglês Dom Phillips e o indigenista brasileiro Bruno Pereira numa incursão em comunidades do Vale do Javari, o fizeram cientes dos riscos que corriam. O vale é um mundo selvagem, marcado por conflitos. Há, em toda a região, os ingredientes que, somados,  revelam a exuberante riqueza amazônica: ouro, madeira, diamante, caça e uma  diversidade de plantas cobiçadas por contrabandistas.

Vista do alto, é um paraíso. De dentro, as portas de um céu exuberante. Mas a cobiça transformou a região num inferno. Primeiro, pela indiferença de um Estado sempre ausente; segundo, pela ambição de grupos humanos que invadem os rios com suas dragas; as matas, com suas escopetas, enquanto embebedam homens e estupram mulheres índios.  

Para complicar, atores diversos em um cenário onde deveriam estar apenas os “povos da floresta”.

De um lado, as Organizações Não Governamentais, suspeitas de advogarem interesses que estão além da causa indígena.  De outro, missões evangélicas e católicas impondo um credo que os índios não querem nem precisam. Como nos velhos tempos do cristianismo, o que esses grupos religiosos fazem é impor uma conversão forçada, pois os índios têm suas crenças e seus deuses. Têm uma história que não tem sido respeitada. 

Voltando ao caso do desaparecimento do jornalista inglês Dom Phillips e do indigenista brasileiro Bruno Pereira, a torcida é para que eles sejam encontrados bem de saúde e toda essa comoção provocada pela mídia tenha desaparecido. Mas a questão é, aqui, de novo, o risco que assumiram. O que estavam fazendo numa área perigosa, inclusive com forte presença do tráfico de drogas? Como poucos homens, Phillips e Bruno carregam a ilusão de que podem mudar o mundo, acabar com as injustiças, proteger os mais fracos, garantir a permanência da floresta e seus povos isolados. 

Mas não se faz isso sozinho. Não se muda a história de uma região e do País sem um governo que garanta segurança, que respeite os tratados internacionais sobre meio ambiente e proteção da floresta.

Dom Philips e Bruno precisam ser encontrados, mas que os que sonham, como eles, com mudanças, entendam que o lugar para transformar o País, assegurar a inviolabilidade das terras indígenas, a preservação da floresta e suas riquezas, não é o Vale do Javari, mas Brasília.

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Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.