Promoção por bravura na PM do Amazonas tem forte odor da desintegração moral
Um PM requereu a promoção por bravura com base no socorro prestado a um homem que sentia cólicas abdominais no meio da estrada de Novo Airão. Teve o pleito atendido. Os gases que esse homem expeliu deve ter afetado o policial e sensibilizado o comando da Polícia Militar do Amazonas. Tudo isso tem um forte odor da desintegração moral de nosso tempo, que afeta drasticamente as instituições…
A minha geração sonhava com heróis. Era o tempo dos quadrinhos nos quais a bravura de um homem era capaz de mudar o mundo. Nenhum era brasileiro, mas estavam retratados como cidadãos do mundo. O tempo passou e os heróis saíram dos quadrinhos para a TV. Crescemos, envelhecemos percebendo que aquele mundo era tão imaginário quanto nossos ideais.
A realidade, a nossa realidade de um país sempre em crise, de moral falida, de esperteza e falta de pudores, era imutável.
E ainda assim pensávamos que tudo poderia mudar; que atos de bravura revelariam heróis de verdade que resgatariam nosso orgulho.
Até que, novamente, a desilusão.
Um documento da Polícia Militar concedendo promoção a um policial virou nossos estômagos e vomitamos nossa revolta.
O documento fala por por si mesmo. O PM requereu a promoção por bravura tendo como justificativa o fato de haver atendido um homem que sentia cólicas abdominais no meio da estrada de Novo Airão. Os gases que esse homem expeliu deve ter afetado o policial e sensibilizado o comando da PM.
Tudo isso tem um forte odor da desintegração moral do nosso tempo, que afeta drasticamente as instituições.
Na verdade vivemos um tempo de falência absoluta de valores. Caminhamos velozmente para o abismo. Mais do que nunca precisamos de heróis que nos livrem do desastre. Que não peçam reconhecimento pelo que devem fazer diante de um homem que sofre.
Que sejam bravos na defesa da liberdade e da justiça; que honrem a farda que vestem, a toga que usam, sem se embriagarem pela vaidade e pelo poder que lhes foi conferido.
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.