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Operação que prendeu criminosos do CV em Manaus é mérito da Polícia do Rio


Por Raimundo de Holanda

18/06/2021 19h13 — em
Bastidores da Política


  • Que o Comando Vermelho montou um entreposto em Manaus, que utilizava empresas de fachada para lavar dinheiro, que domina a rota do tráfico no rio Solimões e faz negócios com as Farcs colombianas, não é um fato novo. Faltava uma investigação séria, mas essa tarefa coube à polícia do Rio de Janeiro.

A inteligência da Secretaria de Segurança do Rio de Janeiro identificou a presença de líderes do Comando Vermelho em Manaus. A operação desta sexta-feira, com a prisão de vários criminosos, é mérito da polícia carioca. E se tem que ser comemorada, não põe  fim a uma curiosa indagação: por que o Comando Vermelho se rebelou contra instituições do Estado do Amazonas e fez os órgãos de segurança reféns por dois dias consecutivos, durante uma série de atentados a ônibus, bancos, igrejas, escolas, sem uma reação à altura das autoridades locais? A morte de um de seus membros? Provavelmente sim, mas o comando indicava quebra de acordos, inclusive apontando o dedo para a principal autoridade da segurança do Estado. Em nenhum momento essa versão foi contestada oficialmente pelo governo do Amazonas.

Que o Comando Vermelho montou um entreposto em Manaus, que utilizava empresas de fachada para lavar dinheiro, que domina a rota do tráfico no rio Solimões e faz  negócios com as Farcs colombianas,  não é um fato novo. Faltava uma investigação séria, mas essa tarefa coube à polícia do Rio, mais preparada, que nesta sexta-feira deu uma lição ao governo do Amazonas.

O que não se sabia, mas se suspeitava, era que soldados do Comando Vermelho recrutados em Manaus para atuar no tráfico de drogas na região eram treinados nos morros do Rio. A ordem para os ataques terroristas da primeira semana deste mês em Manaus partiu do Rio, onde a organização criminosa montou seu bunker.

Não é de todo improvável que o CV acabe deixando os morros cariocas para se instalar com todo o seu comando em Manaus.

E este um alerta para as autoridades,  que ou se preparam para evitar que isso aconteça  ou será difícil evitar o domínio da cidade por essa organização criminosa, com crescente violência, descontrole administrativo e mortes.

As razões parecem óbvia: o Estado do Amazonas tem um sistema de segurança multifacetado, não há uma liderança ou há  múltiplas lideranças, a disciplina é  escassa e a política acabou por desfigurar uma instituição centenária, a Polícia Militar. Fora  o fato de que o mapa da cidade de Manaus  "avermelhou" nos últimos meses…

Outro fator importante, que favorece a ação do CV e seu interesse por Manaus, e que precisa de uma séria avaliação dos órgãos de segurança, é que o  rio Negro, que margeia  a cidade,  se mistura ao  Rio Solimões a 1.000 metros do centro histórico. 

É a principal rota do tráfico que vem da tríplice fronteira. E as favelas já são dominadas pelo grupo criminoso, que uniformizou  parte de seus habitantes com  a camisa de um famoso time carioca, para identificar não apenas seus membros, mas moradores amedrontados que ficaram sob sua "proteção", depois de um grande vácuo deixado pelo Estado....

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Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.