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O sonho de Julieta Hernández e o nosso horror de todos os dias


Por Raimundo de Holanda

10/01/2024 20h40 — em
Bastidores da Política


  • Se pedalar hoje é pouco, é o muito que podemos fazer para lembrar sua memória, sua coragem, seu sorriso triste, sua vida marcante, suas aventuras, seu desejo de conhecer o mundo.

A venezuelana Julieta Hernández tinha um sonho. Retornar ao seu país, pedalando. Reencontrar família, amigos, um amor que ficou para trás e que tentava recuperar.

No retorno encontraria palhaços tristes, mas com a missão de fazer outros sorrirem. O sonho desabou numa noite de terror no Amazonas. Violência, estupro e o corpo incendiado. Depois, o nada. O silêncio . Lágrimas que escorreram em outros olhos. Henández foi transformada apenas em um pedaço de carne chamuscado, enterrado numa cova rasa.

Muitos vão pedalar hoje em sua memória. É pouco. Outras Hernandez estão morrendo, espancadas, estupradas, enterradas vivas.

O assustador é essa violência, a desvalorização da vida. O horror de todos os dias é esse medo coletivo de ser a próxima vítima, o que leva à falta de confiança no outro, a suspeitar do outro ou dos outros.

Mas a vida continua. Se pedalar hoje é pouco é o muito que podemos fazer para lembrar sua memória, sua coragem, seu sorriso triste, sua vida marcante, suas aventuras, seu desejo de conhecer o mundo.

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ASSUNTOS: Julieta Hernandez

Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.