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O negócio nebuloso das agências de publicidade com o governo do Amazonas


Por Raimundo de Holanda

28/05/2021 18h03 — em
Bastidores da Política


  • O governo usa, de certa forma, de chantagem, especialmente com os sites: a publicidade se torna uma troca, não um negócio de interesse público. A troca é o silêncio, a submissão e a renúncia à liberdade de denunciar desmandos ou fazer criticas à gestão pública

É difícil falar de publicidade institucional sem mencionar a existência de negócios nebulosos entre governo e agências de publicidade no Estado do Amazonas. O que se sabe de concreto é que o governo gasta muito - R$ 111 milhões em 2020 - e que as agências, que ganham licitações nem sempre transparentes, faturam muito: 20%  do valor das mídias veiculadas nos órgãos de imprensa são retidos por elas.  Mas esse percentual é só uma pequena parcela do resultado de conexões entre a produção das peças publicitárias e os interesses do governante de plantão. Aí são consumidos de 35 a 40 por cento dos recursos, sem nenhuma transparência.

Contratadas ou subcontratadas, as agências escapam da fiscalização dos órgãos de controle.

Ano passado, o Ministério Publico de Contas debruçou-se sobre os gastos com veículos de internet, concentrando inutilmente seus esforços no faturamento individual de sites/blogs. Um trabalho pífio, que se resultou em alguma coisa de concreto foi a exposição do que já constava no sistema de pagamentos do governo. Somados, os investimentos em sites não representavam 5% dos R$ 111 milhões empregados em publicidade.

O destino de R$ 105 milhões pode ter sido diluído entre jornais impressos, rádios e emissoras de TV?  Ao menos 35% desse valor ficou com as agências, que escapolem a qualquer fiscalização.

Um video precariamente produzido, pobre em conteúdo ou ideias, chega a custar até R$ 300 mil, fora outras ”inovações” que entram na conta das agências e não se sabe de quem mais.

A profusão de blogs e sites, o poder da mídia digital, dos Influencers nas redes sociais tem impactado os negócios das agências e, por tabela, do governo do Amazonas.

As pressões por publicidade cresceram. Por mais insignificante que seja um site, do ponto de vista de seu alcance e da força cada vez maior dos  influenciadores de redes sociais, eles representam um novo modelo de comunicação que ameaça esse monopólio e esses ganhos exorbitantes da imprensa tradicional e das agências. Somente uma emissora de TV abocanhou R$ 10 milhões ano passado.

À medida que mais transparência for dada ao processo, à distribuição de publicidade, ao monitoramento do seu alcance nas mídias digitais, mais e mais as agências perdem e com ela o governo pela simples razão de que o investimento em publicidade não está casado com o interesse público, mas com a relação doméstica entre agências e governo.

E o governo usa, de certa forma, de chantagem, especialmente com os sites: a publicidade se torna uma troca, não um negócio de interesse público. A troca é o silêncio, a submissão e a renúncia à liberdade de denunciar e criticar. Tempo difícil este….

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Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.