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O lado escuro e molhado de Manaus


Por Raimundo de Holanda

25/04/2022 20h54 — em
Bastidores da Política



A cheia do Rio Negro está nas manchetes dos principais telejornais, assim como o lado escuro de Manaus, que agora ganha visibilidade e aparece como é: pobre e rejeitado pelo poder público. Uma grande favela obrigada a conviver com a água do rio que sobe de mansinho  até o travesseiro da última cama improvisada.

O Rio Negro, generoso com a cidade o ano todo, não é vilão quando se aproxima dos casebres e suas águas batem como chicotes no assoalho improvisado em estacas. Chega para revelar um povo esquecido, que pisa em suas águas ou anda sobre pontes improvisadas.

O rio não quer ser  vitrine. A vitrine são as pessoas que a TV mostra absurdamente alegres como se não enfrentassem uma tragédia pessoal. Mas ainda assim são pouco notadas.

São tão esquecidas que a arte de medir o vigor escandaloso do rio é motivo de estudos de burocratas com suas  réguas medindo cada centímetro de sua notável subida, enquanto o povo - que o rio tenta tirar da escuridão do esquecimento, é ignorado.

O  Rio  Negro vai descer em algum momento, os xerifes vão continuar mandando, a liberdade continuará sendo restringida por toques de recolher impostos por um poder  que não é o Estado que o rio quis despertar e continua dormindo. É o poder dominante, com suas regras, suas leis, seus tribunais. E que torna essa pobreza perene, pessoas submissas, enquanto espalha seus tentáculos pela politica.

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Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.