Chuva mexe com as entranhas de Manaus e puxa para debaixo da terra a sua história
O inverno chegou. A chuva mexeu com as entranhas de Manaus e velhos casarões desabaram. A chuva vai aos poucos revelando segredos de uma cidade que já foi bela, com galerias bem planejadas e que hoje se abrem como que reclamando de um abandono histórico.
É a parte velha que cede, se desmancha, distante dos grandes edifícios erguidos também em áreas maltratadas e perigosas.
O solo da cidade é ruim, fofo, entrecortado por igarapés, mas cede espaço para prédios modernos como que numa ânsia de tocar o céu. Uma nova Babel aqui? E se um prédio desses, com muitas vidas humanas, desabar? Quem será responsabilizado?
Nem pensar. Mas tragédias acontecem exatamente onde não há planejamento.
No caso do casarão que desabou, não houve vítimas humanas - apenas o passado morreu mais um pouco, com a história da cidade se apagando ou se desligando de nossa memória.
Sem esse passado vivo é difícil fazer uma liga com o presente e o futuro.
Uma cidade é como uma pessoa. Tem alma, tem vida, tem história. Manaus só quer eternizar nomes e, como Babel, alcançar o céu. Mas e se as grandes torres começarem a desabar ?
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.