Bolsonaro, o Jacaré que ganhou uma boiada de presente no Carnaval
Bolsonaro passou por uma metamorfose no desfile da escola de samba 'Rosas de Ouro'. Virou jacaré. Engraçado ? Sim. Muito engraçado ( reveja vídeo). Mas uma grande propaganda que cai bem num eleitorado pouco esclarecido. A forma como Bolsonaro foi retratado pela escola terá, seguramente, efeito contrário ao pretendido. Se adequa ao populismo do presidente, uma mistura de crenças no passado, deboche com o presente e indiferença com o futuro.
Caçoar ou zombar do outro está na cultura do brasileiro. Ou Tiririca não seria eleito deputado federal por três legislatura consecutivas com suas palhaçadas.
Bolsonaro é transformado em jacaré após vacina no desfile da Rosas de Ouro pic.twitter.com/Ddc87l7fBT
— Portal do Holanda (@portaldoholanda) April 25, 2022
Bolsonaro, no caso, não está sozinho no picadeiro desse circo: a oposição, desnorteada, não planejou sua desconstrução e o resultado é que ele chegou a 31 % da preferência do eleitorado, a 7 meses das eleições, tirando de Lula o sonho de vencer no primeiro turno.
A que se deve, também e talvez em maior grau, essa subida inesperada de Bolsonaro? A uma imprensa - Globo, Folha, Estadão, só para citar os veículos mais conhecidos - que deixou de informar para fazer uma irracional oposição à figura do presidente.
Na ausência de um poder moderador, a imprensa tem um papel fundamental nas crises institucionais. Está por trás de recuos de quem avançou além dos limites legais. Quando os poderes constituídos fracassam, o papel da imprensa passa a ser essencial, imprescindível para drenar o ódio que contamina o Executivo, o Legislativo e o Judiciário num país dividido - uma parte está com Bolsonaro, a outra com o Supremo. Mas a democracia - que os dois lados dizem defender - está em chamas.
Na verdade, Bolsonaro, a imprensa e o STF falam em nome da democracia (e da liberdade), mas ambos a afrontam em menor ou maior grau todos os dias. Ou não sabem o que é democracia ou estamos assistindo a uma luta de poderosos que não estão nem aí para o futuro do Brasil.
Raimundo de Holanda é jornalista de Manaus. Passou pelo "O Jornal", "Jornal do Commercio", "A Notícia", "O Estado do Amazonas" e outros veículos de comunicação do Amazonas. Foi correspondente substituto do "Jornal do Brasil" em meados dos anos 80. Tem formação superior em Gestão Pública. Atualmente escreve a coluna Bastidores no Portal que leva seu nome.