Uma nova adaptação do conto “O Alienista”, de Machado de Assis, está sendo desenvolvida por artistas amazonenses. Intitulado A Casa Verde, o roteiro de longa-metragem é assinado por Tércio Silva e Rafael Ramos e pretende dar à obra clássica uma roupagem amazônida, ambientada nas ruínas de Paricatuba, no Amazonas. O projeto foi contemplado pela Lei Paulo Gustavo e deve ser concluído nos próximos dois meses.

A proposta mistura referências literárias, cosmológicas e mitológicas, ao unir a crítica social de Machado com elementos do pensamento indígena de Ailton Krenak. Na história, o hospital psiquiátrico “Casa Verde” substitui a antiga leprosaria de Paricatuba como cenário principal. A narrativa pretende abordar temas como sanidade, ancestralidade e os limites da razão ocidental, incorporando simbolismos da floresta, como árvores que falam e rituais com ervas do rio. 

No roteiro, o personagem principal, Dr. Bacamarte, é retratado como um médico negro e homossexual, cuja jornada pessoal desafia conceitos rígidos de normalidade. A menina Lua, que carrega placas com frases como “Não confie em médicos”, é a figura que confronta a visão do protagonista. A história se constrói como um drama simbólico de realismo fantástico, com forte influência de autores latino-americanos como Gabriel García Márquez e Isabel Allende.

Como contrapartida, os autores vão oferecer uma oficina gratuita de roteiro em Manaus, voltada a estudantes e iniciantes no audiovisual. A atividade abordará técnicas de narrativa, criação de personagens e o uso do território como linguagem. O projeto marca a estreia de Tércio Silva na escrita de um longa e reforça o trabalho autoral de Rafael Ramos, premiado com “Manaus Hot City” e com passagens por diversos festivais internacionais.