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Na BR-040, receita e buracos crescem

Por Agência O Globo

19/11/2017 7h11 — em
Rio de Janeiro



RIO — O asfalto rachado em alguns trechos se soma a guarda-corpos quebrados e sinalização deficiente. A precariedade do estado da BR-040 (Rio-Juiz de Fora) denuncia a falta de manutenção da rodovia, administrada pela Concer. Ainda com quase quatro anos de gestão pela frente — o prazo vai até 2021 —, a concessionária, que assumiu a via em 1º de março de 1996, tem sido criticada pela qualidade do serviço oferecido aos motoristas. O quadro pode ser resultado de uma equação simples: ao mesmo tempo em que aumentou as receitas, a Concer reduziu as despesas, principalmente com conservação.

Balanços da concessionária apontam que as despesas da Concer vêm despencando. Num período de três anos, entre 2014 e 2016, os gastos relativos a cuidados com a rodovia tiveram uma queda de 82,8%. Em 2014, foram aplicados R$ 32 milhões na conservação. No ano seguinte, o valor caiu para R$ 28 milhões, e, em 2016, chegou ao seu nível mais baixo, R$ 5,5 milhões.

O curioso é que, ao mesmo tempo em que reduziu os gastos com manutenção, a concessionária arrecadou mais. A receita com pedágio atingiu R$ 276,67 milhões em 2016, contra R$ 255,59 milhões no ano anterior. Um resultado registrado mesmo tendo havido, no período, uma redução de 9,5% no número de veículos que passaram pelos seis postos de pedágio da rodovia (três em cada sentido). O fluxo diminuiu de 26 milhões para 23,7 milhões de carros. A receita maior foi garantida por um reajuste no valor do pedágio.

— O grau de degradação do concreto da pista mostra que, em alguns trechos da BR-040, a vida útil do piso está no fim. O material empregado é projetado para durar entre 15 e 30 anos. Não era para estar nessas condições no fim da concessão. Em concessões de rodovias, o operador é obrigado a entregar um pavimento de qualidade, que resista ao fluxo de veículos por alguns anos após o término do contrato — diz o engenheiro especializado em rodovias Creso de Franco Peixoto, professor do Departamento de Geotecnia e Transportes da Faculdade de Engenharia da Universidade de Campinas (Unicamp).

Peixoto analisou as condições do asfalto da BR-040 a partir de fotos enviadas pelo GLOBO. Ele observou que há casos em que a massa asfáltica já é visível. O professor chamou a atenção também para trechos em que a falta de conservação atinge pistas feitas de placas de CCP, um dos pavimentos mais caros usados em rodovias. Em outros pontos, os guarda-corpos se romperam, aumentando o risco de acidentes para os motoristas.

— Do lado do abismo, eles não têm mais resistência para segurar veículos pesados. Se um caminhão sair da pista, pode despencar — afirma o especialista.

Obras paradas

Ainda de acordo com os balanços da Concer, a concessionária aumentou a receita, reduziu os gastos e, mesmo assim, permaneceu deficitária. O prejuízo da empresa, no ano passado, foi de R$ 44,2 milhões, contra um lucro de R$ 127,7 milhões em 2015. Questionada pelo GLOBO sobre a queda dos investimentos e os problemas de conservação, a Concer se limitou a afirmar que, nos dois últimos anos, investiu cerca de R$ 50 milhões em serviços, que incluíram recuperação de pavimento e passarelas, placas novas de sinalização e limpeza. Mas não explicou por que fechou no vermelho em 2016.

No último dia 7, um deslizamento de terra próximo a um túnel que faz parte das obras da Nova Subida da Serra da BR-040 — paralisadas há mais de um ano — abriu uma imensa cratera e deixou 95 famílias desalojadas. O projeto de duplicação das pistas vem enfrentado uma série de problemas. Em setembro, o Ministério Público Federal entrou com uma ação civil pública na Justiça pedindo a caducidade da concessão da rodovia. O Tribunal de Contas da União (TCU) também constatou indício de sobrepreço na obra, que já consumiu cerca de R$ 500 milhões.


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