Evento com Boaventura de Sousa Santos na USP é cancelado após críticas de alunos
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Um evento na USP (Universidade de São Paulo) com a participação do sociólogo português Boaventura de Sousa Santos foi cancelado. Nesta quarta-feira (13), a reitoria disse ter tomado a decisão porque "o palestrante está com problemas de saúde".
A ida do professor da Universidade de Coimbra à Cidade Universitária, porém, era alvo de protestos desde o início desta semana, quando foi anunciada. Em 2023, o acadêmico foi alvo de uma série de denúncias de assédio sexual e moral.
Ele estaria num seminário intitulado "O futuro da democracia ou a democracia do futuro?", marcado para o próximo dia 25 no Departamento de Sociologia da USP, na FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas).
"Não vamos aceitar que esse evento seja sediado na nossa universidade", escreveu o centro acadêmico Ísis Dias de Oliveira, da faculdade de ciências sociais, em manifestação no Instagram na terça-feira (12). "Estamos enviando denúncias formais à coordenação de curso e ao departamento, exigimos que o evento seja cancelado", seguiu.
Nesta manhã, o departamento respondeu. Em nota, afirmou nada ter a ver com o evento. A responsabilidade seria do Centro Observatório das Instituições Brasileiras, da reitoria, que horas depois anunciou ter desmarcado o seminário.
Um dos pensadores portugueses mais importantes da atualidade, Boaventura de Sousa Santos, de 84 anos, foi acusado de assédio sexual por três mulheres em abril de 2023. Diretor do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, Santos teria importunado três alunas da instituição.
As supostas vítimas se pronunciaram sobre o ocorrido no artigo "Sexual Misconduct in Academia - Informing an Ethics of Care in the University" -ou má conduta sexual na academia - para uma ética de cuidado na universidade, em português--, publicado em março pela editora Routdlege.
"Exigir objetividade a uma descrição de sobrevivente é um ato de violência", escreveram as autoras, a belga Lieselotte Viaene, a portuguesa Catarina Laranjeiro e a americana Mye Nadya Tom. Elas não citam o nome de Boaventura ou do Centro de Estudos Sociais, se referem a um "professor estrela com mais de 70 anos" e dão todas as descrições, próprias do ambiente acadêmico.
Meses depois da denúncia, Boaventura publicou um texto no qual afirma ter tido comportamentos inadequados, mas refuta ter praticado assédio sexual.
"Não é sempre fácil perceber conscientemente que se está a ter comportamentos que antigamente não eram vistos como inapropriados", escreve ele, acrescentando que não busca justificar com isso possíveis atos machistas.
"Reconheço que em determinados momentos posso ter sido protagonista de alguns desses comportamentos. Nessa medida, lamento que algumas pessoas possam ter sofrido ou sentido desconforto e por isso lhes devo uma retratação."
O intelectual diz, porém, que esse reconhecimento não significa que ele admite ter cometido os abusos dos quais é acusado.
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