Israel concorda com plano de cessar-fogo dos EUA, diz Casa Branca
SÃO PAULO, SP E BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Diante de forte pressão internacional pelo estabelecimento de um cessar-fogo na Faixa de Gaza, Israel aceitou uma proposta de trégua apresentada pelo enviado dos Estados Unidos ao Oriente Médio, Steve Witkoff, anunciou nesta quinta-feira (29) a Casa Branca. O aval ao plano já teria sido informado pelo premiê israelense, Binyamin Netanyahu, a famílias de reféns, segundo o jornal The Times of Israel.
A entrada em vigor de um novo cessar-fogo permanece incerta, no entanto. Logo após o anúncio feito pelo governo de Donald Trump, um dirigente do Hamas afirmou à agência de notícias AFP que a proposta, do jeito que está, não contempla exigências básicas feitas pela facção durante todo o conflito.
"A resposta de Israel significa a perpetuação da ocupação, a continuação dos assassinatos e da fome extrema. Ela não responde a nenhuma das demandas do nosso povo, em particular o fim da guerra e da fome", afirmou Bassem Naim, um dos líderes do Hamas atualmente no exílio.
Em comunicado, o grupo terrorista se limitou a dizer que estuda o texto de "maneira responsável". Ainda não parece haver, portanto, uma previsão para uma eventual trégua seja de fato estabelecida.
"As discussões continuam e esperamos que haja um cessar-fogo para que possamos trazer todos os reféns de volta para casa", disse Karoline Leavitt, porta-voz da Casa Branca, ao anunciar o posicionamento de Tel Aviv. Questionada se o Hamas havia aceitado a proposta, ela respondeu: "Não que eu saiba".
Ao jornal israelense Haaretz uma pessoa com conhecimento do assunto disse que o plano prevê a libertação de dez reféns vivos e a entrega de 18 corpos de vítimas em troca de um cessar-fogo de 60 dias em Gaza. Ainda segundo essa autoridade, o texto não inclui exigência para que Israel encerre os ataques e se retire do território, mas sugere que o "acordo poderia levar a um cessar-fogo de longo prazo na prática".
O anúncio feito pela Casa Branca exige cautela. O governo de Donald Trump tem se mostrado ávido em tomar para si os créditos de negociações em conflitos pelo mundo. Em outra guerra de grande escala, o republicano já disse várias vezes, por exemplo, que Ucrânia e Rússia iniciariam imediatamente negociações para o estabelecimento de um cessar-fogo, o que também parece distante de se concretizar.
Da mesma forma, Netanyahu se vê pressionado a apresentar esforços por mais diálogo. Diversos países, incluindo aliados históricos de Israel, pedem o estabelecimento de um novo cessar-fogo diante da catástrofe humanitária em Gaza. A última ação do tipo começou em 19 de janeiro e durou quase dois meses.
No dia 18 de março, porém, Israel rompeu a trégua e voltou a atacar Gaza após divergências com o Hamas sobre as fases seguintes do acerto. Ao menos 3.900 pessoas foram mortas no território desde então, de acordo com autoridades palestinas.
Em todo o conflito, iniciado após os ataques terroristas de 7 de outubro de 2023 no sul israelense, mais de 54 mil pessoas foram mortas em Gaza, segundo dados do Ministério da Saúde, controlado pelo Hamas.
Além de retomar os ataques, o governo de Binyamin Netanyahu impôs nos últimos meses um bloqueio total de 78 dias sobre a entrada de ajuda humanitária em Gaza, o que agravou a crise em Gaza. Tel Aviv afrouxou parcialmente o cerco na semana passada, permitindo o ingresso de um pequeno fluxo de ajuda, considerado insuficiente para aplacar a crise humanitária, segundo a ONU.
Na última terça-feira (27), ao menos 47 pessoas ficaram feridas durante uma distribuição de alimentos em Rafah, no sul de Gaza, organizada por uma entidade apoiada por EUA e Israel a maioria, diz a ONU, teria sido atingida por disparos de soldados que Tel Aviv chamou de "tiros de advertência".
Um dia depois, duas pessoas morreram após "hordas de famintos" invadirem um armazém do Programa Mundial de Alimentos (PMA), das Nações Unidas, no centro de Gaza.
Israel afirma que o bloqueio visou pressionar o Hamas, que ainda mantém 58 reféns acredita-se que até 23 deles estejam vivos. Tel Aviv ainda acusa o Hamas de roubar ajuda humanitária o que o grupo nega.
Enquanto isso, os ataques continuam no território palestino. Nesta quinta, 44 pessoas morreram em Gaza, segundo o Hamas. Em comunicado, o Exército israelense afirmou ter bombardeado "dezenas de alvos terroristas em todo" o território palestino ao longo do dia. "Os alvos atacados incluíam terroristas, estruturas militares, postos de observação e atiradores de elite que representavam uma ameaça às tropas israelenses na área, túneis e outros locais de infraestrutura terrorista", disse o comunicado.
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