Exército do Paquistão anuncia fim de operação contra sequestradores de trem
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - As forças de segurança do Paquistão invadiram nesta quarta-feira (12) um trem que havia sido sequestrado na província do Baluchistão por combatentes separatistas, matando todos os agressores e encerrando um impasse de um dia envolvendo centenas de reféns, disse o Exército.
Segundo o porta-voz militar, Ahmed Sharif Chaudhry, 21 reféns e todos os 33 envolvidos no sequestro foram mortos. Mais cedo, a operação havia libertado 190 dos 440 passageiros que estavam no veículo, de acordo com agências de notícias.
"Hoje libertamos um grande número de pessoas, incluindo mulheres e crianças. A operação final foi realizada com muito cuidado", disse Chaudhry, acrescentando que nenhum civil foi morto na operação. Ele disse que as forças de segurança haviam limpado o trem "vagão por vagão".
Na terça, dezenas de combatentes separatistas balochas explodiram a linha férrea e lançaram foguetes no Expresso Jaffar, que transportava mais de 400 passageiros, disse um oficial de segurança.
Os separatistas, usando coletes suicidas, estavam sentados ao lado de reféns, complicando os esforços da operação. Na quarta-feira à noite, o BLA (sigla para Exército de Libertação de Baluchistão) reivindicou o ataque e disse ter matado 50 passageiros.
O ataque de terça fez dezenas de reféns após cerca de 60 homens armados explodirem parte de uma linha ferroviária nessa empobrecida província com reservas de petróleo e minerais que faz fronteira com o Afeganistão e o Irã.
Um vídeo publicado no aplicativo de mensagens Telegram pelo porta-voz do grupo mostra um trem passando por um desfiladeiro deserto antes de uma explosão na linha férrea lançar uma coluna de fumaça no ar. Em seguida, aparecem imagens de pessoas sendo retiradas do trem. A Reuters não pôde verificar independentemente a autenticidade do material.
Após o trem ser forçado a parar, os agressores teriam atirado contra os vagões, ferindo passageiros.
O número de mortos pelos homens armados é incerto. De acordo com um balanço provisório, três pessoas que estavam no trem morreram durante o ataque incluindo o maquinista, que teria sofrido ferimentos graves.
O grupo ameaçou começar a executar reféns se as autoridades não atenderem um prazo de 48 horas para a libertação de prisioneiros balochis, ativistas e desaparecidos que, segundo o grupo, foram sequestrados pelo Exército.
"Os camaradas estão derramando seu sangue por você, por esta pátria", disse um dos combatentes no trem em uma mensagem do Telegram que pedia à população de Baluchistão para se juntar à luta do grupo contra o governo.
Algumas pessoas que conseguiram escapar afirmaram à AFP que precisaram caminhar durante horas pela remota área montanhosa do distrito de Sibi para escapar dos criminosos. "Não tenho palavras para descrever como conseguimos escapar. Foi aterrorizante", disse Muhamad Bilal, que viajava com sua mãe no trem Jafar Express.
Falando sob anonimato, um policial afirmou à AFP que 80 reféns libertados foram levados à Quetta, capital da província de mesmo nome, com um forte esquema de segurança. Um jornalista da Reuters viu quase cem caixões vazios chegando na estação ferroviária dessa cidade.
Enquanto visitava os passageiros libertados, o ministro provincial Mir Zahoor Buledi foi confrontado por uma mulher que disse que seu filho estava entre os reféns. "Eu te imploro, por favor traga meu filho de volta", disse ela. "Por que você não parou os trens se eles não estavam seguros? Se o trem nunca fosse chegar ao seu destino, por que deixá-lo partir?"
Buledi disse aos jornalistas que o governo está trabalhando para reforçar a segurança na região.
A Pakistan Railways, operadora ferroviária estatal do Paquistão, suspendeu os serviços das províncias de Punjab e Sinde para Baluchistão até que as autoridades confirmem que a área está segura, disse a imprensa local nesta quarta.
O trem havia saído da cidade de Sibi às 9h locais desta terça (1h no Brasil) em direção a Peshawar, em uma viagem que duraria mais de 30 horas. O assalto, porém, interrompeu o trajeto quando ela completava quatro horas.
O BLA é o maior de vários grupos armados étnicos que lutam contra o governo no Baluchistão. Seus integrantes intensificaram suas atividades nos últimos meses usando novas táticas para infligir um alto número de mortes e feridos e visar o Exército do Paquistão.
Forças de segurança combatem há décadas os insurgentes desta província. Os grupos rebeldes acusam as autoridades de permitir que estrangeiros explorem seus recursos naturais sem que isso beneficie a população.
ASSUNTOS: Mundo