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Boatos de sequestro de crianças para roubar órgãos resistem até hoje

Por Portal Do Holanda

08/05/2021 10h14 — em
Lendas Urbanas


Arte: Liminha / Portal do Holanda

Em 1987, apareceu pela primeira vez na imprensa mundial relatos de órgãos roubados em um jornal hondurenho. De acordo com o relato, 13 crianças com deficiências foram vendidas para os EUA como uma fonte de ‘peças de reposição’. Essas crianças haviam sido descobertas em quatro “casas de engorda”, como na antiga lenda de ‘João e Maria’, na qual os irmãos eram recolhidos por uma bruxa que os alimenta para depois matá-los e comê-los.

Mas o autor das supostas denúncias, Leonardo Villeda Bermudez, secretário-geral da comissão de Honduras para o bem-estar social, se retratou após não confirmar as hipóteses das assistentes sociais.

Em Manaus, em 2013, o professor Naeff Ribeiro, então com 58 anos,  tentou provar que o filho Bóris de Araújo Silva, morto aos 7 anos, teria sido vítima de uma quadrilha atuante nos Prontos Socorros Infantis do Estado do Amazonas.

A criança passou 10 dias internada no Hospital e Pronto Socorro da Criança da Zona Oeste, onde deu entrada com vômitos e diarreia e foi a óbito no dia 13 de fevereiro de 2013. O pai teria notado no prontuário registro de cirurgias cujos detalhes ele desconhecia e não havia autorizado.

A suspeita era de que a criança teria sido vítima de uma quadrilha que tirava os órgãos. Mas o processo, instaurado pela polícia e que foi julgado no Conselho Regional de Medicina do Amazonas (CRM-Am) foi arquivado por falta de provas.

RELATOS SECULARES

Esses relatos, no entanto, são seculares. Em Paris, uma grande vítima dos boatos no ano de 1768 foi rei Luís XV, que foi comparado com Herodes, o assassino de crianças inocentes. Dizia-se que havia uma “Carruagem de Sangue”, levando uma senhora rica que oferecia doces para as crianças na rua, pedindo-lhes para acompanhá-la ao seu castelo para brincar com a sua filha.

No castelo, os dedões das crianças eram cortados e elas sangravam até a morte na banheira de um rei que sofria de uma doença grave que só podia ser curada com o sangue de crianças menores de sete anos.

Por isso, estudiosos da comunicação já concluíram que essas histórias são atualizações de lenda antiga e universalmente conhecida. Mas o tema é tão impactante que já virou até filme e documentário.

O documentário francês Voleurs d'yeux, traduzido por Ladrões de Órgãos,  fez a denúncia em 1995 levando um grupo de médicos daquele país a examinar os olhos de uma suposta vítima do crime, de nome Jeison Cruz Vargas que, aos 12 anos de idade, foi levado pela embaixada colombiana num voo para Paris pela suspeita de que as córneas dele tinham sido retiradas.

Mas o relatório dos médicos apontou que os globos oculares, apesar de atrofiados, ainda estavam lá, assim como partes da córnea. Após o  resultado do exame médico, houve até suspensão do prêmio recebido pela produtora do documentário, que obteve mais de três milhões de espectadores.

O sucesso do documentário é do tamanho da aceitação dos relatos desse tipo de crime.

Por duas vezes o Parlamento Europeu se pronunciou contra o roubo de órgãos e em 1993, aprovou, inclusive, uma resolução condenando o tráfico de órgãos.

Para ocorrer, no entanto, o tráfico necessitaria de uma infra-estrutura médica tão complexa que deixa a maioria dos relatos na esfera dos boatos.


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O Portal do Holanda foi fundado em 14 de novembro de 2005. Primeiramente com uma coluna, que levou o nome de seu fundador, o jornalista Raimundo de Holanda. Depois passou para Blog do Holanda e por último Portal do Holanda. Foi um dos primeiros sítios de internet no Estado do Amazonas. É auditado pelo IVC e ComScore.

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